Em uma nova geração de produtos industriais, o valor agregado vai além das funcionalidades embarcadas. Junto aos recursos de sensoriamento e processamento em veículos ou equipamentos de produção, a conectividade e a criação de soluções em nuvem inverte a lógica de depreciação: o produto vai se tornando melhor depois de sair da fábrica. Ao mesmo tempo em que essa transformação permite a criação de serviços e modelo de negócios, os aspectos relacionados à segurança e transparência definem a viabilidade das inovações.
Paulo Spacca, presidente da Abinc (Associação Brasileira de Internet das Coisas) e mediador do painel Ecossistema IoT e AI: um universo em expansão, no Futurecom 2025, salientou que o termo “sensoriamento” é mais preciso quando se trata da modalidade de IoT relacionada à captura de dados. Outras inovações mencionadas no painel, contudo, desdobram as possibilidades, com análises avançadas dos dados coletados, que por sua vez desencadeiam adaptações em tempo real.
“Sensoriamento, conectividade, nuvem e IA inseridas na experiência do agricultor representam rentabilidade para o produtor e sustentabilidade para todos”, afirmou Niyantri Ramakrishnan, diretora de TI e transformação digital da Bayer. Ela descreveu o FieldView, um serviço da companhia em que leituras de solo, umidade e outras variáveis aferidas pelos dispositivos são enviadas à nuvem. Uma aplicação de IA processa os dados e devolve ao agricultor uma prescrição para aplicação dos produtos no local e na medida exata.
“Carro novo” a cada atualização online

Luciano Driemeier, gerente global de novos negócios conectados da Ford, explicou por que as funcionalidades dos carros exigem mais da rede. Além de centenas de sensores de telemetria, a conexão é usada para incrementar as próprias funcionalidades do carro. Ele contou que a montadora havia colocado a função de controle de temperatura na tela touch screen. Ao verificar que o consumidor preferia o potenciômetro convencional, uma atualização online transformou o controle de volume em um botão multifuncional. “Um carro desenhado em torno da conectividade não precisa manter as características de fábrica”, disse. “Nesse caso, foi uma atualização de 3 GB. O desempenho da conexão é fundamental”, observou.

“A conectividade disponível e de qualidade é a base. Mas quando tratamos dados relacionados a operações e informações críticas, a infraestrutura tem que ter segurança fim a fim, na rede e na nuvem”, enfatizou Andrea Mannarino, Diretora de Operações da Claro empresas.
A partir dos dispositivos digitais embarcados em carros, residências, cidades ou nas vestimentas, Andrea prevê que as mudanças na forma de “rentabilizar” – não apenas em termos econômicos, mas também com benefícios amplos – tendem a se aprofundar. “Hoje as operadoras são grandes parceiras da indústria automotiva”, complementou Driemeier.
O gerente de novos negócios da Ford avalia que a conectividade hoje faz parte dos produtos, embora reconheça que as inovações incrementais são só o início. “Hoje, pensamos em IA e carros autônomos considerando o jeito que nós dirigimos. Com a conexão V2V (entre veículos), um carro vai receber aviso dos outros”, mencionou.
Cibersegurança e alta disponibilidade

“Cibersegurança é a premissa de tudo, do desenvolvimento à prestação de serviços consentidos”, reforçou Driemeier. Evidentemente, assim como ocorre com a confiabilidade dos componentes mecânicos, qualquer vulnerabilidade digital representa uma exposição inaceitável ao risco. “Só se pode conversar com o carro mediante a uma autenticação forte”, acrescentou. Outro pilar, mais relacionado à gestão do que à cibersegurança, se refere a compliance no uso dos dados. “É fundamental a transparência ao consumidor”, disse.
Andre Martins, CEO da NLT, destacou o papel do integrador de rede nesses projetos. “Manter essas malhas interconectadas e contingenciadas pode envolver a combinação de links pela rede celular, satélite e outros meios. Não é só acesso”, afirmou.
“Não há IA sem dados e não há dados sem medição”, sumarizou Alexandre Dal Forno, diretor de IoT e 5G da TIM.
A executiva da Claro empresas esclareceu que, além das diversas formas de conexão, o parceiro também deve ser capaz de implementar soluções integradas de sensor, aplicações de análise, nuvem e outros componentes. Junto a seus próprios produtos e competências, cabe ainda ao parceiro incorporar, de forma segura e compatível, inovações de outras empresas, em um marketplace confiável.
Embora os recursos digitais e o software sejam diferenciais cada vez mais relevantes dos produtos, Driemeier reconheceu que o aprofundamento dos benefícios depende de padronização e escala.
Paulo Spacca explicou que o correto tratamento dos dados, com padrões de interoperabilidade e compliance, dá base aos “data spaces”, em que as informações de dispositivos conectados são compartilhadas e contextualizadas por ferramentas de IA.