Futurecom
Painel de debate no Future Congress com foco em saúde 5.0 e bem-estar, apresentando especialistas discutindo inovação na área de saúde, tecnologia e bem-estar no Brasil. Da esquerda para a direita: Ana Cláudia Ferraz, Edson Amaro Júnior, Cláudio Coelho, Renato Citrini e Sônia Castral (Foto: Rodrigo Santos)

Saúde 5.0:  wearables são prevenção, IA é personalização e conectividade é inclusão

4 minutos de leitura

Tecnologias estão maduras para habilitar uma nova fase da saúde digital, mas equidade, cultura e regulação seguem como desafios



Por Rodrigo Conceição Santos em 30/09/2025

A saúde 4.0 estruturou bases tecnológicas com business intelligence (BI), os primeiros dispositivos IoT para coleta de dados, realidade aumentada e outras soluções que viabilizaram a digitalização da medicina. Principalmente para combater a pandemia, os casos de uso avançaram, com o aprimoramento das aplicações digitais e destaque para as teleconsultas. De elementos vestíveis (wearables) para apoio a diagnósticos precoces a cirurgias assistidas remotamente, agora o setor se prepara para levar a digitalização a uma nova fase: a saúde 5.0. E isso envolve, prioritariamente, a humanização.

Nesse sentido, especialistas presentes no Futurecom 2025 entendem que é hora de utilizar tudo que se desenvolveu em termos de tecnologia até o momento a serviço dos pacientes. Isso significa desburocratizar processos hospitalares, liberar médicos para passar mais tempo com os pacientes, reduzir filas de leitos, otimizar processos de altas hospitalares. “O desafio é levar tecnologias avançadas para reduzir lacunas tanto socioeconômicas e financeiras quanto de letramento digital”, afirmou Edson Amaro Júnior, médico neurorradiologista e responsável pelo Global Advanced Technologies for Equity do Hospital Israelita Albert Einstein.

Edson foi um dos debatedores do painel “Saude 5.0 e o bem-estar”, no qual resumiu que a tecnologia não é barreira e que os desafios para a massificação da saúde 5.0 estão nas esferas cultural, regulatória e social, o que envolve a necessidade de maior letramento digital.

Habilitadores da saúde 5.0

Imagem gerada digitalmente

Contudo, nada – ou muito pouco – é possível sem conectividade de qualidade, quando o assunto é saúde digital. “Nada faz sentido sem uma rede [de telecomunicações e dados] capaz de levar tecnologia para lugares remotos. É isso que permite inclusão em regiões mais remotas do país, onde não há médicos”, pontuou Ana Cláudia Ferraz, diretora de vendas da Claro empresas.

É o caso do projeto OpenCare 5G. Também chamado de “Sonho Xingú”, ele ocorreu entre 2019 e 2023 e foi exposto como exemplo da utilização de tecnologias para levar medicina a locais onde há poucos médicos, conforme pontuou Cláudio Coelho, vice-presidente da Associação Brasileira de Startups de Saúde e HealthTechs (ABSS). Integrante do projeto que foi liderado pelo Inova HC, do Hospital das Clínicas, ele provocou os participantes do painel a pensar em tecnologias para “chegar a mais projetos inclusivos como esse”.

Para Sônia Castral, distinguished analyst da TGT, as parcerias público-privadas são um caminho. Lembrando que o Sistema Único de Saúde atende 76% da população brasileira, ela enxerga que as PPPs podem alcançar uma população maior do que as iniciativas unicamente públicas ou unicamente privadas, ajudando a colocar infraestrutura correta onde, de fato, há necessidade. “Precisamos levar o que já se tem no centro e sul do país para o Norte e Nordeste, especialmente”, disse.

Ela também chamou atenção para o maior cuidado etário, dado que a população brasileira está envelhecendo. Atualmente, a expectativa média de vida do brasileiro é de 76,4 anos, segundo o IBGE.

O médico neurorradiologista do Einstein, Edson Amaro Júnior, atribuiu como maior desafio da saúde 5.0 a inequidade social. “E não só no aspecto econômico e financeiro, mas também no de letramento digital também”, disse. O Brasil, com cerca de 212 milhões de habitantes, é naturalmente um espaço de difícil universalização de serviços, fazendo-se necessário desenvolver pessoas capazes de massificar as evoluções, segundo ele. “É o caso dos agentes comunitários de saúde que visitam cerca de 200 famílias por mês, tornando-se um ponto de contato importante para a transferência tecnológica que amplia o cuidado com a saúde”, completou.

Ações preditivas – que antecipam a probabilidade de problemas – também estão atreladas à saúde 5.0 e, nesse caso, Edson e os demais especialistas presentes no painel do Futurecom enxergam as tecnologias digitais como aliadas. “Já em 2016/2017, tivemos um caso de predição no qual, ao passar pelos processos tradicionais de um pronto socorro, algoritmos identificavam a probabilidade do paciente ficar internado. Ao passar pelo médico e ter essa confirmação, essa identificação antecipava em 84 minutos o tempo que se levaria para definir a internação”, lembrou.

Em outros casos, salientou o especialista do Einstein, a digitalização reduziu as burocracias para alta hospitalar, liberando leitos mais cedo e, assim, otimizando as internações, que representam dois terços dos custos hospitalares, em média.

Wearables

Antes do hospital, contudo, tecnologias podem ajudar a identificar problemas precocemente, tornando os tratamentos mais simples. Nesse ponto, os elementos vestíveis são expoentes em promessa para a saúde 4.0: vão de anéis a pulseiras, relógios e até sensores que sequer precisam encostar no paciente para medir batimentos cardíacos ou pressão arterial.

Um anel desenvolvido pela Samsung, por exemplo, pesa 3 gramas e monitora sinais vitais em tempo real, transmitindo informações automaticamente para o smartphone sempre que esse está próximo, via bluetooth. “Desenvolvemos relógios, anéis e outros dispositivos inteligentes que estão sempre em contato com o corpo, captando dados de saúde para que processos de big data – agora otimizados pela IA – os trabalhem para gerar informações que ajudam na tomada de decisões a favor dos pacientes”, disse Renato Citrini, gerente sênior de produtos da Samsung. Para ele, os dispositivos wearables têm permitido chegar a um monitoramento contínuo da saúde, o que vai ao encontro da tendência de predição comentada pelo Dr. Edson, do Einstein.

Os preços dos dispositivos vestíveis, porém, ainda são limitadores, conforme ponderou Sônia Castral, da TGT. O anel da Samsung, por exemplo, não sai por menos de R$ 2 mil. “Além disso, temos de tomar cuidado com a forma como as pessoas lidam com as informações fornecidas pelos wearables”, advertiu com a observação de que somente médicos podem dar diagnósticos confiáveis.

Por outro lado, quando as informações dos wearables são devidamente sistematizadas – e supervisionadas por médicos – dentro de um processo profissional, os resultados podem ser surpreendentes, explicou Sônia. Como exemplo, ela citou casos na China nos quais bases de dados colhidos por dispositivos vestíveis fornecem diagnósticos de forma bastante automatizada.

Ana Cláudia Ferraz, diretora de vendas da Claro empresas
Ana Cláudia Ferraz, diretora de vendas da Claro empresas (Foto: Adriana Otero)

A utilização de wearables, para Ana Cláudia, da Claro empresas, também é um demonstrativo do desafio cultural a ser vencido a favor da medicina 5.0. Como exemplo, ela citou que o monitoramento pós-procedimentos pode ser tão ou mais eficaz do que manter o paciente hospitalizado apenas para medir parâmetros. “Isso, contudo, envolve também inclusão digital, no sentido de que temos de ter técnicos preparados para lidar com dados colhidos pela internet das coisas”, disse. Por tudo isso, portanto, ela avaliou que, hoje, a tecnologia já não é um limitante, ficando, novamente, “o nosso desafio acerca de inclusão social, processos, cultura e letramento digital”, enfatizou.

No que diz respeito à equidade, Ana Cláudia completou que ela começa na habilitação tecnológica de empresas de níveis e tamanhos diferentes. Como exemplo, ela citou projeto da Claro empresas com uma cooperativa de saúde na qual a menor e a maior empresa do grupo têm, igualmente, condições de aderir às tecnologias que vão de nuvem à conectividade, cibersegurança e outras do ecossistema da empresa de tecnologia.



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