5G Foto: Roberto Francellino

Expansão da IA e do 5G pressionam demanda por energia

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Ampliação do 5G, ao lado da inteligência artificial, eleva consumo energético e desafia infraestrutura; fontes renováveis são alternativa para sustentar o crescimento



Por Roberto Francellino em 29/04/2025

O avanço da tecnologia anda lado a lado com o aumento no consumo de energia. A crescente adoção da inteligência artificial (IA), impulsionada pelos grandes modelos de linguagem (LLMs), e a expansão da infraestrutura de telecomunicações, como o 5G, têm gerado preocupações quanto à capacidade das redes de suportar essa nova demanda energética.

Segundo análise da McKinsey & Company, os custos com energia representam, em média, 5% dos gastos operacionais das operadoras — podendo chegar a 7% em mercados emergentes. A implantação do 5G também é um fator relevante: embora mais eficiente por gigabyte, cada site 5G consome entre duas e três vezes mais energia que o 4G. Já os data centers, impulsionados pelo crescimento do edge computing, aumentam ainda mais essa pressão, sendo responsáveis por 5% a 10% dos custos operacionais.

Para lidar com esse cenário, a aposta recai sobre as fontes renováveis e a transição energética. Lançado em julho de 2024, o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA) 2024–2028 estabelece a principal estratégia nacional para o desenvolvimento e aplicação da IA no Brasil. Com previsão de investimento de R$ 26 bilhões até 2029, o PBIA tem como foco promover soberania tecnológica, inclusão digital e avanços em áreas como saúde, educação, meio ambiente, segurança pública e gestão governamental.

Estruturado em cinco eixos estratégicos, o plano contempla infraestrutura e desenvolvimento tecnológico; difusão, formação e capacitação de profissionais; aplicação da IA na melhoria dos serviços públicos; estímulo à inovação empresarial; e suporte ao processo regulatório e de governança, com ênfase em desenvolvimento ético e transparente.

Durante painel no Web Summit Rio 2025, o vice-ministro de Ciência e Tecnologia, Luis Fernandes, destacou que o apetite energético da IA precisa ser atendido por fontes limpas. Segundo ele, parte do investimento previsto será direcionado a projetos de energia renovável. Um exemplo citado foi a parceria no Ceará com a ByteDance, dona do TikTok, para a instalação de uma planta de energia de 1 GW destinada a alimentar data centers.

Tecnologia, conectividade e energia de mãos dadas

A relação entre energia e tecnologia foi tema de outro painel, no estande da Claro empresas, durante o evento. Executivos da Claro, da Cemig e da Neoenergia abordaram a dependência mútua entre os dois setores. Maurício Dall’agnese, diretor de Sustentabilidade, Estratégia e Inovação da Cemig, destacou a importância das redes inteligentes e da inteligência artificial para a gestão do novo perfil de geração distribuída. “Saímos de 80 para 400 mil usinas conectadas à nossa rede, majoritariamente paineis solares em residências. A tecnologia é essencial para gerenciar essa complexidade”, afirmou.

Já Rita Knop, diretora Comercial da Neoenergia, elencou quatro vetores de crescimento da economia brasileira: (1) o aumento de data centers, (2) o hidrogênio verde para mobilidade urbana, (3) os veículos elétricos e (4) a eletrificação da economia. Segundo ela, “infraestruturas robustas de energia são indispensáveis para suportar tecnologias como IA e computação em nuvem, demonstrando a complementaridade entre energia e inovação”.

Entretanto, os desafios não se limitam à geração de energia. A pressão sobre as infraestruturas de transmissão e distribuição também aumenta. Dall’agnese revelou que a Cemig prevê investir R$ 59 bilhões até 2029 para modernizar suas redes — o dobro do valor de mercado atual da empresa —, destacando a dimensão do desafio para atender à crescente demanda por conectividade e processamento de dados.

Esse é um problema global. A Agência Internacional de Energia (IEA) estima que data centers e aplicações de IA devem responder por mais de 20% do crescimento da demanda elétrica nas economias avançadas até 2030. No Brasil, a expectativa é de que o consumo energético dos data centers atinja 9 GW até 2035, impulsionado pela expansão da IA e da computação em nuvem.

Empresas se movimentam no Brasil e no mundo

Nos Estados Unidos, a empresa de energia CenterPoint Energy ampliou em US$ 1 bilhão seu plano de investimentos, totalizando US$ 48,5 bilhões até 2030, para expandir a capacidade de atendimento a data centers. No Reino Unido, dificuldades para conectar novos empreendimentos à rede têm levado desenvolvedores a recorrer a geradores a gás, colocando em risco metas de descarbonização.

No Brasil, as operadoras de telecomunicações também se movimentam. Hamilton Pereira, diretor de Infraestrutura da Claro, afirmou que grande parte das 26 mil antenas da empresa já é alimentada por fontes de energia sustentável. “A sustentabilidade tem se tornado uma exigência dos clientes, e por isso estamos expandindo nossa rede de usinas, com previsão de novas plantas em todas as unidades federativas”, declarou.

Para viabilizar essa expansão da infraestrutura energética, será essencial garantir previsibilidade de investimentos e estabilidade regulatória. A avaliação é de Max Xavier, CEO da Delta Energia, também presente no Web Summit Rio 2025. Segundo ele, o Brasil deve adotar soluções adaptadas à sua realidade, evitando replicar modismos estrangeiros. Ele alertou para os riscos da expansão acelerada de fontes intermitentes, como a solar e a eólica, sem o devido investimento em fontes acionáveis, como hidrelétricas e termelétricas.


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