A digitalização das operações avança no setor mineral, sob o conceito chamado de Mineração 4.0. Em suma, ele combina automação, inteligência artificial e monitoramento em tempo real e visa otimizar as operações das minas com redução de riscos, custos e alinhamento à transição energética.
No plano institucional, a modernização do setor também passa pela digitalização dos processos da Agência Nacional de Mineração (ANM). Segundo o Ministério de Minas e Energia (MME), a criação de plataformas integradas, aliada ao uso de IA, deve trazer mais agilidade e transparência às atividades regulatórias. O projeto Destrava Brasil, uma das iniciativas do ministério, por exemplo, visa justamente automatizar fluxos e desburocratizar processos ligados à atividade mineral.
Essa transformação está conectada à expansão da economia de baixo carbono. O MME lembra que minerais como lítio, cobre e níquel são estratégicos para a produção de baterias, turbinas eólicas e painéis solares: elementos centrais da matriz energética limpa.
No campo da segurança, a ANM aposta nas tecnologias para reduzir riscos. Um dos projetos em desenvolvimento é o Sistema de Monitoramento de Alertas (SMA), que utiliza dados geotécnicos e imagens de sensoriamento remoto para prever instabilidades em barragens. A plataforma antecipa riscos e reduz a exposição de trabalhadores a áreas vulneráveis.
Adoção desigual e lacunas na legislação
Apesar dos avanços, o cenário ainda é marcado por disparidades. Enquanto grandes grupos mineradores já operam com sistemas autônomos e centros integrados de controle, empresas de menor porte ainda trabalham com processos analógicos. A escassez de profissionais qualificados em automação e IA também dificulta a difusão do modelo.
Além das diferenças de infraestrutura e capacitação, o setor enfrenta obstáculos legais. Para Eduardo Couto, presidente da Comissão de Mineração da OAB Nacional, o marco regulatório não acompanha a incorporação das novas tecnologias. “A mineração 4.0 representa a convergência entre tecnologias digitais e processos minerários tradicionais. Mas os sistemas autônomos, algoritmos de decisão e ferramentas inteligentes ainda não foram absorvidos pela legislação, que segue ancorada em paradigmas analógicos”, disse ele, conforme matéria do Correio Braziliense.
Eficiência operacional com uso de dados
Mais especificamente, o Código de Mineração, de 1967, não contempla dispositivos voltados à automação, à robótica ou à inteligência artificial. Também não há definição clara sobre a responsabilidade em caso de falhas em sistemas automatizados, segundo Couto, que também avalia a necessidade de atualização do marco legal para dar segurança jurídica ao avanço tecnológico.
Para Marcelo Senise, presidente do Instituto Brasileiro de Regulamentação da Inteligência Artificial (IRIA), o uso de IA inaugura uma nova era para o setor. A análise preditiva de dados permite antecipar falhas, ajustar a produção à demanda e reduzir perdas operacionais. Segundo ele, a inteligência operacional melhora o controle sobre variáveis como manutenção, consumo de energia e logística. ”Ao automatizar processos e integrar sistemas autônomos — de caminhões a centrais de despacho —, a mineração se torna mais produtiva, resiliente e segura”, disse Senise.