Profissional conectando cabo Ethernet em switch de rede para otimizar segmentação de redes corporativas usando VLANs e VPNs Imagem gerada digitalmente

Segmentação de redes: estruturas blindadas para os sistemas críticos

4 minutos de leitura

Técnicas permitem isolamento de dados sensíveis, garantia de capacidade e mitigação de vulnerabilidades



Por Redação em 11/12/2025

O clichê cinematográfico de espiões disfarçados de faxineiros ou rastejando por um duto de ventilação ficou anacrônico e até ingênuo. No mundo digital, lamentavelmente, isso acontece todo dia. Só que com mais conforto e tempo para o invasor, que, após entrar sem levantar suspeitas, vai se movimentando lateralmente até chegar onde não deveria.

A ideia da segmentação de redes é isolar essas vias de interconexão. Assim como na arquitetura física, há abordagens de segurança tanto para os sistemas necessariamente mais expostos, como sites públicos, quanto para bases de dados, plataformas de automação e todos os ativos nos quais falhas e ataques podem provocar desastres.

Além de impedir ou, no mínimo, reduzir o alcance de ataques externos, a segmentação limita os riscos de aliciamento de funcionários, uma vez que restringe o acesso a grupos específicos. Portanto, se podem estabelecer políticas precisas e ficam mais fáceis os eventuais processos de auditoria.

Técnicas de segmentação

A forma mais tradicional de segmentação em redes corporativas são as VLANs (redes locais virtuais), que operam na camada 2 e seguem uma lógica muito próxima do conceito físico de “ligar cabos entre pontos autorizados”. Cada VLAN funciona como um circuito entre dispositivos previamente definidos. Assim, estações e servidores só se comunicam dentro daquele domínio de broadcast, de forma semelhante ao que aconteceria se houvesse uma ligação física exclusiva.

Essa abordagem não apenas aumenta o nível de segurança, mas garante desempenho constante, evitando disputa de tráfego entre áreas distintas de rede. Se marketing, engenharia e sistemas de missão crítica compartilham a mesma infraestrutura física, a VLAN assegura que suas interações ocorram em canais independentes, sem um departamento interferir na banda ou na latência do outro.

A segmentação lógica também pode ser feita através de VPNs (redes virtuais privadas) e ACLs (listas de controle de acesso). Nesse modelo, a separação não depende da camada física, mas de políticas, criptografia, listas de permissão e mecanismos de autenticação. A VPN estende um “túnel seguro” para conexões remotas ou filiais, enquanto listas de controle de acesso definem detalhadamente quem pode conversar com quem, em que horários, de quais dispositivos e para quais aplicações. É uma forma moderna de reduzir exposição sem necessariamente multiplicar switches ou cabos.

Nas redes 5G, a tecnologia de network slicing é capaz de configurar circuitos fim a fim, como se todos os terminais estivessem conectados ao mesmo switch, com segurança e qualidade de serviço garantida de ponta a ponta. Em um único backbone, pode-se ter uma fatia totalmente dedicada à automação industrial com baixíssima latência, outra para serviços administrativos e outra para conectividade pública ou mobilidade. Cada fatia recebe os recursos necessários (banda, funções de rede, perfis de tráfego e políticas de segurança) como se fosse uma infraestrutura exclusiva.

O resultado é uma arquitetura em que cada sistema opera isolado, com desempenho previsível e menor superfície de ataque.

Casos de uso

Pessoa utilizando um laptop com avisos de sistema de alerta e erro, simbolizando cuidados e desafios na tecnologia e segurança digital.
Foto: LookerStudio / Shutterstock / Modificada com IA

A segmentação tem aplicações diretas em diferentes ambientes corporativos. Em setores que lidam com propriedade intelectual ou dados sensíveis, como P&D, jurídico ou engenharia de produtos, ela impede que um usuário não autorizado tenha visibilidade ou acesso a informações estratégicas. Bases de dados sensíveis, como cadastros sob proteção da LGPD, também devem ficar em zonas segregadas.

Em automação industrial e redes de OT (tecnologia de operações) de plantas de energia, fábricas ou refinarias, isola sistemas de controle que não podem sofrer paralisações ou intervenções externas.

Outro caso comum ocorre em sistemas legados ou aplicações sem atualizações frequentes, em que se aplica o chamado virtual patching. Ao colocá-las em segmentos protegidos e monitorados, limita-se o impacto de vulnerabilidades que não podem ser corrigidas imediatamente.

Sistemas transacionais, como roteadores de pagamentos e plataformas bancárias, também se beneficiam dessa separação, já que qualquer falha ou ataque lateral é contido dentro daquele perímetro virtual.

A segmentação ainda é base para estratégias de airgap e backup. Mesmo quando não há isolamento físico total, criar circuitos virtuais separados para as réplicas de dados impede que um ransomware alcance os repositórios de contingência.

Em linhas gerais, as principais vantagens percebidas pelas organizações incluem:

  • proteção direta contra movimentação lateral de invasores,
  • controle fino de acesso e visibilidade,
  • redução de ruído e disputa de banda,
  • facilitação de auditorias e rastreabilidade,
  • maior previsibilidade de desempenho e estabilidade operacional.

Combinar segmentação física e lógica cria um ambiente mais simples de administrar e muito mais difícil de atacar.

Cuidados e desafios

Bloco de madeira com símbolo de malware e a palavra 'MALWARE' ao lado de um laptop, destacando os cuidados e desafios na segurança cibernética.
Foto: Wor Jun / Shutterstock

Se aplicada sem visão completa da arquitetura, a segmentação pode gerar efeitos colaterais. Em ambientes distribuídos, especialmente com migração acelerada para serviços em nuvem, é comum que um sistema dependa de outro e essa dependência não esteja claramente documentada. O resultado pode ser um bloqueio silencioso – uma aplicação que funciona internamente deixa de funcionar após parte de seu processamento ser deslocado para a nuvem.

Há casos em que equipes passaram semanas analisando falhas até descobrir que o problema não era desempenho, mau funcionamento de software ou bugs, mas simplesmente um pacote bloqueado por ACLs que ninguém lembrava existir.

Quando cada aplicação conversa com dezenas de microserviços, bases, APIs externas e ferramentas de integração, a falta de inventário atualizado se torna um risco real. A complexidade cresce, e scanners de vulnerabilidade, por exemplo, podem ter que ser autorizados a “viajar” entre segmentos para analisar o ambiente corretamente.

Outro desafio recorrente é a falsa sensação de segurança. Separar a rede é essencial, mas se dentro dos segmentos não houver proteção de endpoint, monitoramento contínuo, inspeção de tráfego e regras de menor privilégio, uma invasão ainda pode acontecer, mesmo que em um espaço menor.

Por fim, fornecedores externos e prestadores de serviço também precisam ser considerados. Muitas operações dependem de integrações, acessos temporários, aplicativos hospedados fora da infraestrutura principal e processos que atravessam múltiplas áreas da empresa. Sem governança e políticas claras, a segmentação pode virar uma muralha cheia de portas improvisadas.

O ponto mais importante é que segmentar não é apenas configurar VLANs, túneis ou regras de firewall, mas compreender os fluxos reais de negócio. Quando isso acontece, a empresa aproveita plenamente o valor da segmentação: segurança reforçada, tráfego previsível, auditorias mais simples e menor impacto operacional em caso de incidentes.



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