Goiânia, capital de Goiás, é nacionalmente reconhecida pela economia ligada ao agronegócio e à música sertaneja. Mas, após os avanços da inteligência artificial (IA), a cidade passou a impulsionar seu polo tecnológico, o Hub Goiás.
A iniciativa reúne empresas, centros de pesquisas e universidades, e conta com apoio do governo estadual, além da parceria com o Porto Digital do Recife, para a formação de um ecossistema com instituições de ensino e pesquisa, além de empresas de desenvolvimento de softwares, de acordo com O Globo.
Desde 2023, o Hub Goiás já alavancou cerca de 160 startups de tecnologia, com foco em IA. Apesar disso, manter os profissionais qualificados nas empresas da região é o maior desafio. Em maioria, eles migram para outras oportunidades (inclusive remotas).
Por outro lado, o hub goiano vem registrando casos bem-sucedidos do uso de IA em seu portfólio. A Cilia, startup que desenvolveu uma tecnologia para auxiliar seguradoras em orçamentos, usando como base imagens dos veículos, por exemplo, recebeu apoio do Centro de Excelência em Inteligência Artificial da Universidade Federal de Goiás (Ceia-UFG) em 2018.
A plataforma envia quase 25 mil orçamentos todos os dias. Para isso, conta com colaboradores em sete estados brasileiros. Segundo Elze Neto, líder de IA da Cilia, a empresa recebe cerca de 400 fotos por minuto, o que otimiza o processo que antes levava uma semana – e agora é feito em um dia.
Apesar dos resultados positivos, Daniel Barbosa, CEO da Cilia, aponta como principal gargalo a retenção de profissionais especializados em ciência de dados e IA.
Universidades podem ajudar a suprir dificuldades na retenção de talentos

Em Goiás, as empresas estão estabelecendo parcerias com universidades para auxiliar na retenção de talentos. “O recrutamento de profissionais ainda em formação, como cientistas de dados, por exemplo, pode fortalecer a relação entre profissional e empresa”, justificou Barbosa.
Rômulo Prudente, CEO da Implanta, viu a empresa crescer 35% ao ano depois que passou a oferecer a análise de dados para mapear tendências de consumo e planejar estoques. A empresa, que usa IA desde 2020, conta com a tecnologia para cruzar dados de vendas com outros fatores, projetando resultados cada vez mais personalizados. Porém, embora instalada em Goiânia, a empresa também conta com o apoio de profissionais de outros dez estados (parte deles em trabalho remoto).
“Uma estrutura em uma cidade paulista como Campinas, por exemplo, seria 30% mais cara. Estamos em um polo valoroso de retenção de massa cinzenta para IA. Rompemos a necessidade do presencial para que negócios aconteçam, mas, considerando qualidade de vida, mão de obra e estruturas de relacionamento, vamos permanecer aqui, mesmo trabalhando globalmente”, declarou o CEO.
Pesquisa e desenvolvimento
Goiás ainda aguarda o estabelecimento de centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D).
Cleber Zanchettin, professor do Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), disse que seu estado enfrentou os mesmos problemas de retenção de profissionais. Foi então que surgiu a proposta de criação de um ecossistema integrado à capital pernambucana.
“O parque se tornou o coração da inovação, porque é onde as ideias podem se transformar em realidade. Os hubs de tecnologia que deram certo apostaram no desenvolvimento local. Você pode aproximar a tecnologia da academia e das empresas, mas isso só funciona se levar ao desenvolvimento local”, explicou o professor.
Para José Frederico Lyra Netto, secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação, Goiás segue por este caminho. Para isso, o governo faz o mapeamento das áreas com pesquisadores atuantes e levanta as tecnologias que possam ser transferidas para as empresas.
“Já temos pesquisadores atuando em determinada área, mas como transferir esse conhecimento para a sociedade e empresas? Os centros de inovação olham para as demandas das empresas e estruturam projetos para aplicar tecnologia”, explicou Lyra.
O governo goiano também apoiou a educação técnica. Das seis unidades das Escolas do Futuro, cinco são focadas no ensino de tecnologia e inovação. Desde 2021, as escolas receberam mais de R$ 100 milhões de investimentos, e 19 mil alunos estão em 669 cursos de tecnologia.