A relação entre energia, eficiência e sustentabilidade chegou à indústria da Mídia e Entretenimento e pautou o Congresso SET Expo 2025. Moderado por Ricardo Esturaro, especialista em marketing, estratégia e sustentabilidade, o painel “Do estúdio ao data center: o desafio da energia e da sustentabilidade” reuniu especialistas que analisaram os impactos do consumo energético crescente em toda a cadeia — da produção audiovisual à infraestrutura digital crítica.
Esturaro abriu a sessão destacando as preocupações com o clima: “Enquanto o mundo enfrenta o ano mais quente dos últimos 175 anos, a demanda por energia não para de crescer. O desafio é equilibrar inovação tecnológica, economia circular e eficiência energética com uma matriz cada vez mais sustentável”.
Bárbara Rubim, vice-presidente de geração distribuída da ABSOLAR e CEO da Bright Strategies, destacou que o Brasil ocupa posição privilegiada no cenário energético mundial. “Temos uma das matrizes mais limpas do planeta: mais de 80% da nossa eletricidade é renovável, com destaque para hidrelétrica (43%), solar (23%), eólica (13%) e biomassa (7,1%)”, afirmou.

Segundo Rubim, o crescimento da energia solar surpreendeu até mesmo as projeções oficiais: o governo previa 20 GW de capacidade instalada até 2025, mas o país já ultrapassou 41 GW apenas em geração distribuída. Para ela, o movimento representa uma revolução energética “de baixo para cima”, liderada por consumidores residenciais, comerciais e rurais que buscam reduzir custos, num momento em que as bandeiras tarifárias aumentam os preços continuamente.
No entanto, a executiva alertou para os gargalos do setor: a falta de planejamento para lidar com as variações no volume gerado pelas fontes renováveis tem levado à ampliação do uso de usinas térmicas, além de sobrecarregar as redes de transmissão. “Gerar energia não é mais o problema. O desafio agora é garantir confiabilidade, armazenar excedentes e investir em eficiência”, disse, ressaltando que soluções como baterias já oferecem retorno em até sete anos, mas ainda levantam dilemas socioambientais relacionados ao lítio.
O custo invisível do “lixo digital”
Na sequência, Roberta Cipoloni Tiso, diretora de sustentabilidade e comunicação para a América Latina na Green4T, trouxe para o debate o impacto do crescimento exponencial de dados digitais. O volume global, que em 2020 era de 45 zetabytes, deve chegar a 400 zetabytes até 2028, pressionando a infraestrutura de data centers. Apenas nos Estados Unidos, essas estruturas já consomem cerca de 8% da eletricidade do país.

“Estamos armazenando dados como se não houvesse limite. Mas estudos mostram que apenas 12% são realmente úteis, enquanto 65% se transformam em informações sem valor de negócio, mas que ocupam servidores, espaço e energia. É como manter milhares de geladeiras ligadas cheias de comida estragada”, comparou.
Para Cipoloni, rever políticas de armazenamento e investir em eficiência digital é tão urgente quanto ampliar a oferta de energia limpa: “O problema é real e cresce em ritmo superior às estimativas”.
Economia circular e o fim do modelo linear
Fechando o painel, Manoel Lisboa, diretor de negócios da Tangho Green Holding e CEO da Citymining, abordou o impacto do consumo de recursos naturais. Cada habitante da Terra consome, em média, 90 toneladas de matérias-primas por ano, segundo ele, o que acelera o esgotamento dos limites do planeta.

“O problema não é apenas o lixo que geramos, mas o volume de recursos que retiramos. Vivemos num modelo linear — extrair, produzir, consumir e descartar — que já não se sustenta”, alertou.
Lisboa defendeu a transição para a economia circular, baseada em design inteligente, reaproveitamento de resíduos e compartilhamento de recursos. Exemplos como sistemas de uso compartilhado, reciclagem e produtos duráveis foram citados como alternativas para reduzir a pressão sobre a produção de energia e exploração de recursos naturais.
Eficiência é energia limpa
O debate mostrou que a indústria de mídia e entretenimento, cada vez mais dependente de data centers, precisa alinhar crescimento tecnológico a políticas de sustentabilidade.
Seja pela expansão de fontes renováveis, pela redução do desperdício de dados ou pela adoção de modelos circulares de consumo, a eficiência energética representa a forma mais acessível de energia limpa. “Não existe transição sustentável sem eficiência”, concluiu Esturaro. Para ele, o setor de entretenimento é parte dessa transformação e pode ser protagonista com soluções inovadoras.