Entender com muita agilidade os fatos de um passado recente e lidar com um futuro próximo cheio de variáveis exige muita capacidade analítica dos próprios protagonistas das transformações geradas pela inteligência artificial. Como consequência do ritmo e da abrangência dessa evolução, os palestrantes da trilha de IA desta edição do Web Summit levam visões mais críticas e pragmáticas sobre o tema.
Em uma sucessão de sessões de 20 minutos, no dia 28 de abril, apresentações de casos; avaliação de projetos; desafios constatados; e, evidentemente, os próximos passos em tecnologias e modelos compõem uma grade multidisciplinar e objetiva no evento.
Ética e tendências de desenvolvimento

Na palestra LatAm AI, Nico Andrade, diretor da OpenAI para América Latina e Caribe, descreve o ecossistema de IA na região. Ele explica como modelos de linguagem são treinados e adaptados para mercados locais, além de discutir os aspectos éticos do desenvolvimento tecnológico. Antes de ingressar na OpenAI, o executivo fez parte das equipes de políticas públicas do Zoom e do Facebook.
Entre os conteúdos sobre tendências, o cientista Matt Ikle, da SingularityNET, e Márcio Aguiar, diretor executivo da Nvidia, trazem as novidades e suas avaliações sobre o advento da inteligência artificial generalista (AGI). Os especialistas explicam o que são incrementos das atuais tecnologias e o que se pode esperar de disrupção e impactos com a tecnologia.
Na linha de temas emergentes, Chris Stephens, diretor de tecnologia da Groq, demonstra como a arquitetura de LPU (unidade de processamento de linguagem) alavanca as aplicações relacionadas a GenAI. A empresa é referência no desenho de semicondutores nessa vertente.
A parte mais provocante da vertente “futurista” – que lembra a ficção científica de Mary Shelly, do século XIX – é a palestra sobre Necrorrobótica, o futuro da cirurgia. Luis Angel, da Woxsen University, da Índia, mostra como usar componentes biológicos controlados por IA em cirurgias de alta precisão. Na prática, uma aranha morta poderia ser “robotizada” e usada em cirurgias de alta precisão.
Em relação aos aspectos culturais e éticos, Luís Bitencourt, do Conselho de Curadores da Wikimedia Foundation, mostra como os dados gerados pela comunidade a partir de plataformas massivas como Reddit e Wikipedia alimentaram a revolução da IA, com os problemas subjacentes de autoria e direitos.
IA com a mão na massa
Caracterizado pelo bom humor em suas apresentações, Jim Webber, cientista-chefe da Neo4j, comenta por que muitos projetos de IA ainda enfrentam desconfiança ou ficam presos na fase piloto, na palestra Mentiras, malditas mentiras e IAs. O especialista recomenda estruturar dados não apenas para máquinas, mas também para humanos, usando grafos de conhecimento e técnicas como GraphRAG para reduzir alucinações e aumentar a transparência dos sistemas.
Na sessão Um guia para adoção de IA, Justina Nixon-Saintil, diretora de impacto da IBM, e Giuliano Mendonça, líder de inteligência artificial e ciência de dados na Embraer, compartilham casos de uso avançados. Justina destaca seu trabalho em IA generativa para otimizar fluxos de trabalho, enquanto Mendonçamostra como usa aprendizado de máquina na manufatura avançada de aeronaves.
Ao final do dia, o painel BRaZiL reúne Marco Stefanini e Nelson Leoni, da Widelabs, para falar do ecossistema de IA neste país. O Grupo Stefanini é a empresa brasileira de TI mais internacionalizada e acaba de executar uma reestruturação, em que os “habilitadores de IA” são pilares em cada unidade de negócio. A Widelabs é uma startup de IA aplicada.
Entre o possível e o exagerado
Com base em estudos que incluem dados do Brasil, David Shim, CEO da Read AI, fala sobre as expectativas e o impacto real da IA entre os funcionários de várias organizações. Na palestra Construindo confiança em IA entre a força de trabalho global, ele destaca os desafios de treinamento, gestão e outros aspectos para atenuar os gaps de adoção.
Com uma visão empresarial experiente e pragmática, Rika Nakazawa, diretora de inovação comercial da NTT e especialista em impacto nos negócios, separa o “sensacionalismo” em torno de IA dos casos de uso factíveis. Ela adverte para limitações e problemas constatados com sistemas autônomos na palestra Agente(ic) 007.
O apetite insaciável por energia da IA é o tema da palestra de Adam Tank, empreendedor e palestrante focado em sustentabilidade. Ele traz dados sobre a pressão sobre as redes elétricas e o impacto ambiental dos data centers, assim como as alternativas de mitigação.