Marcelo Azevedo Aguiar, diretor de Vendas da Embratel (Foto: Reprodução/Linkedin)

Personalização dá o tom das novas redes corporativas

6 minutos de leitura

Para atender demandas, as redes empresariais evoluem com soluções como 5G privativo e segurança cibernética



Por Nelson Valêncio em 09/12/2024

Independentemente do segmento, as empresas estão mudando suas redes. Não basta mais ter um ou dois acessos, porque o trabalho híbrido e remoto ampliou a demanda, por exemplo, de segurança nos escritórios. Nas plantas industriais, por outro lado, a busca pela produtividade pode ser beneficiada pelas redes privativas. Nesta entrevista, Marcelo Azevedo Aguiar, diretor de Vendas da Embratel (agora Claro empresas), fala do novo cenário e, também, das soluções possíveis. Acompanhe.

O que, atualmente, podemos chamar de redes corporativas?

O conceito foi ampliado em relação ao que tínhamos anteriormente, quando se trabalhava com redes de internet ou MPLS, ou qualquer outra tecnologia. Hoje, o conceito é de hiperconectividade, é ter a garantia da conexão de qualquer cliente corporativo a qualquer hora, estejam os colaboradores dentro ou não da empresa deste cliente. E isso pode envolver a mistura de várias tecnologias, com redes móveis ou fixas. Pode até ser uma rede privativa 5G, pública ou privada, mas com objetivo de garantir 100% de conexão. Os benefícios incluem desde o aumento de produtividade até a melhor tomada de decisão.

Você pode dar um exemplo prático?

Um parque industrial com aplicação de sensores pode dar ao gestor todas as informações em tempo real num dashboard ou conjunto de dashboards, facilitando a tomada de decisão no que se diz respeito à produção ou manutenção preventiva, entre outros casos. Pode-se também melhorar um processo produtivo em tempo real, como foi o caso de uma distribuidora de gás. Eles faziam uma aferição do peso dos botijões assistida por um operador, que controlava a esteira transportadora e a balança. Colocamos uma câmera que fornecia imagens para serem processadas por um software de analytics e transformamos a informação visual em dados numéricos. Com isso, eliminamos a necessidade de ter um operador numa tarefa repetitiva, e ele foi alocado para outra atividade. As falhas também foram eliminadas, porque o processo não tem interferência humana, além de eliminar o risco de segurança, pois o operador estava sujeito à fadiga pelo cansaço. 

Há casos em outras verticais?

Sim, e temos uma rede de hospitais como referência, com mais de 100 hospitais e clínicas conectados por uma rede corporativa em todo o Brasil. A diretriz deles é que os hospitais nunca podem ter suas conexões interrompidas. Adotamos diversas soluções de tecnologia para abordar cada um deles e garantir a continuidade da infraestrutura de dados e voz, tudo integrado e sem risco de invasões cibernéticas. Como são vários equipamentos eletrônicos ligados à rede, o desafio é grande, inclusive de vandalismo. Em um hospital, no Rio de Janeiro, uma das unidades do grupo, criamos uma solução de conexão de rádio ponto a ponto, como redundância à malha de fibra óptica aérea que atende a unidade. A razão? Ventos fortes na região poderiam derrubar árvores, afetando a rede e interrompendo a conexão da clínica. E ainda é possível ter uma conexão adicional, com uma via de acesso por um shopping vizinho.

O que esses exemplos têm em comum?

São modelos que foram pensados, que tiveram um desenho de rede. Não basta botar dois cabos de fibra óptica conectados ao cliente, porque muitas vezes a infraestrutura pode estar no mesmo caminho e aí, uma vez rompido o acesso, perde-se tudo. Temos que fazer um projeto, analisando a arquitetura de rede da Embratel, para saber quais são as abordagens e por quais caminhos distintos podemos garantir uma redundância de conexão para o usuário final. Há um passo à frente, quando passamos a ter uma integração da infraestrutura e podemos ter uma melhor qualidade, pois passamos a vê-la como um ecossistema único e não uma solução de conectividade.

A gestão, nesse caso, é mais efetiva?

Exatamente. Não temos que administrar pontos da rede que falharam e interromperam um circuito, mas que não necessariamente paralisaram um serviço. Um circuito pode ter sido paralisado, mas é possível que se tenha uma redundância naquele local, o que reduz a criticidade da falha. Mesmo numa falha maior, o gerenciamento integrado permite uma visão mais completa e pode-se priorizar o direcionamento do problema, se for entendido, por exemplo, que há o risco de reincidência. Podemos analisar melhor o comportamento da rede e incluir a equipe de qualidade e entender se é uma falha pontual ou de sistema.

O entendimento deve ser mais importante em redes de missão ainda mais críticas. Você pode falar de um caso específico?

Vou falar de uma aplicação de missão crítica em distribuidora de petróleo, com uma rede corporativa com circuitos de alta capacidade interligando vários data centers à matriz da companhia. Temos praticamente um backbone de operadora de telecomunicações para atendê-la. Não pode haver interrupção, porque os data centers processam informações críticas, coletadas de vários sites, inclusive de plataformas marítimas. É necessário ter uma redundância efetiva e com zero falhas. Nesse caso, trabalhamos com diversas soluções. É personalizado e diferente da infraestrutura sensível de uma rede de varejo.

Qual a diferença?

Atendemos um grupo de distribuidora de produtos farmacêuticos, que tem várias marcas em diversos estados, inclusive com uma oferta de produtos caros, com programas de fidelidade e de relacionamento. A inclusão de pontos desses programas, no momento da compra, depende da internet. A rede Wi-Fi dentro da loja serve tanto para o funcionário agilizar o input de dados, quanto para rastrear o comportamento de compra do cliente que se conecta à rede local para usar o acesso.

Nesse universo com várias verticais, quais os que mais se destacam?

Há movimento em todos eles, mas os que mais estão despontando são os segmentos industriais. Temos casos na indústria minero-metalúrgica com redes privativas 5G em função da necessidade de alta disponibilidade e da complexidade da planta. São casos que demandam projetos mais aprimorados do que a conexão física e geralmente o desenho da infraestrutura é  feito a quatro mãos com o usuário. Construímos a rede com a ideia de que haverá um ecossistema industrial com vários tipos de aplicações, considerando a necessidade de capacidade para atender um número X de usuários.  Uma rede Wi-Fi, por exemplo, limita a adoção de veículos autônomos dentro de uma fábrica, mas o espectro de 5G privativo resolve isso e pode trazer a movimentação de um carro autônomo para dentro do ambiente fabril.

E tem a possibilidade de aumentar o sensoriamento também?

Com certeza. Podemos colocar, inclusive, sensores nas pessoas, por meio de crachás eletrônicos, e ampliar significativamente a segurança dentro de uma fábrica. A tecnologia também pode ser feita com uma tag inserida no bolso dos colaboradores ou em algum material que precise ser rastreado, combinando soluções de conexão como o Bluetooth, que tem raio de até 40 metros, sem barreiras, em pontos distribuídos na planta. Pode ser uma solução de tag para monitoramento de malas, por exemplo, facilitando a localização. Rastrear pessoas pode reduzir significativamente o potencial de acidentes internos, pois podemos criar cercas eletrônicas, restringindo o acesso a áreas de risco.

Os recursos citados envolvem planejamento e adequação. Como otimizar uma rede corporativa já existente?

Na maioria das vezes, as corporações não identificam que podem ir para o próximo nível de seu negócio, porque normalmente a área de operações sofre com algum tipo de problema e está se virando, mantendo a produção. Do ponto de vista da conexão, eles têm uma rede Wi-Fi e outra solução que viabiliza o trabalho. Quando vamos discutir com o cliente, a primeira coisa que tentamos ver são quais as aplicações que estão sendo usadas e se podemos aumentar a produtividade por meio de uma solução aprimorada de conexão. Começamos onde a “dor” é maior e vamos ampliando a cobertura e a capacidade na medida que identificamos novos processos de negócio que podem usufruir da rede.

Novamente, poderia citar um exemplo prático?

Temos uma discussão com uma grande fabricante de pneus que apresentava um problema de monitoramento. Existe uma linha de produção que trabalha a goma aquecida, que se transforma no pneu dentro do processo fabril. O aquecimento é feito por meio de um banco de baterias, que se for paralisado pode levar ao endurecimento da goma, com perda na linha de produção. Esse banco de baterias não é monitorado e, quando há falta de energia, ele opera como backup, mas tem um tempo de duração limitado. Após esse tempo, se a energia não voltar, a matéria-prima poderá ser perdida pela falta de aquecimento. Com o sensoriamento das baterias, a gestão tem informação em tempo real. Nossa proposta é começar com uma rede privativa 4G, combinada com a ativação de sensores nas baterias. É uma rede que pode ser otimizada para 5G e agregar outros tipos de aplicações, mas que inicialmente permite a gestão das baterias.

Como a segurança cibernética entra na criação de redes corporativas adequadas?

Vamos falar de contexto: a pandemia mudou muita coisa, porque antes era fácil criar uma estrutura de segurança para um escritório central. Hoje, o trabalho é híbrido e pode ser remoto, com vários usuários trabalhando fora da sede das empresas, em viagens, ou em casa. E mais: temos uma série de aplicações que rodam em nuvem e todo e qualquer acesso que passar pela nuvem precisa ser validado pelas diretrizes de segurança. As soluções de segurança não se esgotam nunca. Se eu não quiser ser assaltado, posso colocar um tanque de guerra em frente de casa, mas a que custo? É mais fácil conhecer os tipos de ataque, monitorá-los e aplicar vacinas. Ao monitorar, podemos entender o comportamentos de usuários e corrigi-los, assim como identificar vulnerabilidades e aplicar soluções adequadas.

Outra questão importante é o legado de equipamentos das empresas. O que fazer com eles numa proposta de melhoria da redes corporativas?

O entendimento é caso a caso. Há exemplos em que a substituição é lógica e a mudança deve ser feita agregando-se um novo dispositivo ou uma parte nova. No caso de aplicação da tecnologia SD-WAN, de redes de longa distância definidas por software, estamos falando de um equipamento que vai conectar todos os pontos de rede e, ao mesmo tempo, aplicar diretrizes de segurança. Colocamos essas diretrizes dentro da “caixa” do SD-WAN, que também é uma solução que naturalmente otimiza o tráfego de dados, pela gestão inteligente que faz, usando os vários circuitos disponíveis.

Para finalizar, o que mudou na contratação das redes corporativas?

O que tem mudado é que antes a contratação era muito pulverizada e por preço, dificultando tremendamente a gestão para acordos com fornecedores de confiança, que podem dar uma visão integrada das redes. Uma administração única permite uma capacidade de gestão infinitamente superior. As empresas passam a ter menos equipe para gerir seus fornecedores e podem antecipar falhas.



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