IA no setor público com modelos nacionais Imagem gerada por Inteligência Artificial

IA no setor público é alavancada com modelos nacionais

3 minutos de leitura

Com foco nos requisitos de proteção de dados, transparência e confiabilidade, domínio da tecnologia garante uso seguro e ético.



Por Redação em 19/08/2025

Para atender a uma população com déficit de serviços públicos e democratizar a relação entre Estado e cidadão, a implementação de IA no setor público é uma alternativa promissora. “Num país como o Brasil, com dimensões continentais, e em que ainda existem muitos problemas sociais a serem sanados, a IA implantada para auxiliar políticas públicas traz um ganho imediato à população”, constata André Beck, sócio da WideLabs, em entrevista ao portal Telessíntese. A empresa é desenvolvedora do Amazônia IA, um modelo de linguagem (LLM) criado no Brasil, nativo em português e treinado com dados culturais e técnicos do país. “O Brasil não pode perder o rumo da história e deixar de ser protagonista no que diz respeito à implantação de IA”, afirma. Ele defende que o setor público utilize exclusivamente IA nacional.

A aplicação no poder público é um dos nove eixos temáticos da Estratégia Brasileira de Inteligência Artificial (EBIA), com direcionamento à melhoria dos serviços e eficiência na gestão.

O documento da EBIA destaca que muitos países já possuem estratégias específicas para a transformação do setor público com IA, com foco em colaboração público-privada, automação de processos rotineiros e gestão estratégica de dados governamentais. Na descrição da política pública, diversas implementações são sinalizadas como referência.

No âmbito federal, o Tribunal de Contas da União (TCU) usa robôs como a “Alice” para analisar licitações e editais, a “Sofia” para auxiliar auditores e a “Mônica” para monitorar compras públicas. O Supremo Tribunal Federal (STF) usa a ferramenta “Victor” para classificar recursos extraordinários, enquanto o Tribunal Superior do Trabalho (TST) emprega o “Bem-Te-Vi” para gerenciar processos judiciais.

No âmbito estadual, a plataforma “PIÁ”, do Paraná, reúne mais de 380 serviços governamentais em um só lugar. Em Pernambuco, o sistema “Elis”, do Tribunal de Justiça, agilizou a tramitação de processos, reduzindo drasticamente o tempo de trabalho.

A reportagem do Telessíntese menciona outra iniciativa desenvolvida no Brasil, a plataforma Genius da consultoria de tecnologia Squadra, que utiliza IA para acelerar o desenvolvimento e a modernização de sistemas legados. Por diversos motivos, setores como Finanças e Governo possuem um grande ativo em dados e funcionalidades em sistemas com arquiteturas antigas, e esse valor pode ser revitalizado e convertido em benefícios para instituições e cidadãos. O produto teve investimento de R$ 20 milhões e apoio do BNDES.

Desafios e considerações éticas

A aplicação da IA em segurança pública é um dos temas de maior destaque na EBIA, que aponta para a existência de pelo menos 75 países utilizando a tecnologia para vigilância. As aplicações incluem sistemas de reconhecimento facial, plataformas de cidades inteligentes (smart cities) e análise de áudio para detectar ocorrências em tempo real.

Entretanto, o documento destaca preocupações éticas e os riscos associados, principalmente ao viés algorítmico. Erros em sistemas de reconhecimento facial podem levar a constrangimentos e prisões arbitrárias, e estudos demonstram que as taxas de falsos positivos são significativamente maiores em pessoas de traços africanos e asiáticos do que em caucasianos. Uma investigação do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESEC) revelou que, em casos de detenções por reconhecimento facial em quatro estados brasileiros, 90,5% das pessoas presas eram negras.

O documento da EBIA ressalta que vieses são, em muitos casos, causados por conjuntos de dados de treinamento com composição demográfica desproporcional, o que aumenta a acurácia para grupos majoritários. A EBIA enfatiza que o uso de IA em segurança pública deve respeitar os direitos constitucionais de privacidade e proteção de dados pessoais.

Para garantir um uso responsável, a EBIA propõe ações como a criação de mecanismos de supervisão para monitorar o uso da IA, a elaboração de Relatórios de Impacto de Proteção de Dados (RIPD) e a implementação de “sandboxes regulatórios” para testar tecnologias sob supervisão do Estado. O texto sugere também a necessidade de uma lei específica sobre proteção de dados em segurança pública, alinhada aos princípios da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados).



Matérias relacionadas

agentes de IA Inovação

Agentes de IA superam fase de testes e redefinem operação das empresas

Estudo indica foco em produtividade e qualidade, mas revela desafios com preparo da liderança, regulação e capacitação da força de trabalho

NFC Inovação

Tecnologia por aproximação impulsiona crescimento das transações sem contato

Projeções indicam salto na bilhetagem digital e no uso de carteiras digitais independentes, o que reforça o papel do NFC na infraestrutura das cidades inteligentes

Benchmark IA Inovação

Benchmarks de IA ganham acesso público

Com código aberto, a ferramenta da chinesa HongShan Capital Group testa modelos de inteligência artificial em tarefas do mundo real

IA diferencial Inovação

IA deixa de ser diferencial e passa a ser pilar de desempenho empresarial

Estudo da Amcham Brasil mostra que a ferramenta será decisiva para as lideranças nos próximos anos

    Embratel agora é Claro empresas Saiba mais