De acordo com o Censo Demográfico, em 2022 haviam 11,4 milhões de brasileiros – ou o equivalente a 7% da população com mais de 15 anos – que não sabiam ler e escrever. Em 2004, para efeito de comparação, essa taxa foi de 11,5%. A alfabetização básica, portanto, vem melhorando proporcionalmente no país, mas um novo componente deve mexer nessa corrida: a IA.
Não como concorrente, mas complementar à educação básica, a “alfabetização” para o uso de inteligência artificial já desponta como uma necessidade, conforme indicaram executivos da IBM e da Groq durante o Web Summit Rio 2025.
Justina Nixon-Saintil ocupa o cargo de CIO na IBM, mas a letra “I”, ao invés de significar Information, como ocorre tradicionalmente, significa Impact. “A minha função é criar e escalonar iniciativas de impacto externo e, atualmente, tudo que tem impacto envolve IA”, disse.

Assim, a IBM tem criado e implementado assistentes virtuais e agentes de IA em diversos negócios. “A inteligência artificial está relacionada ao desenvolvimento econômico das empresas e, por isso, as buscas por talentos nessa área crescem a cada dia”, avaliou.
Alfabetização de IA
Segundo Justina, isso move a IBM nos programas de capacitação de IA, focando na mobilidade social de aprendizes para serem alocadas nos setores de trabalho – quase todos demandantes de atributos de IA atualmente.
À frente do desenvolvimento tecnológico da Groq (field CTO), Chris Stephens é cientista de dados de formação e também docente na Universidade Carnegie Mellon, na cidade de Pittsburgh, estado da Pensilvânia (EUA). Ele também defende a necessidade da qualificação em IA para os novos postos de trabalho e diz que o processo inclui duas premissas principais.

A primeira é técnica. “Precisamos empoderar as pessoas com os elementos básicos de desenvolvimento dos modelos de linguagem (LLMs) desde estudantes até profissionais de outras áreas de mercado (que não sejam programadores)”, diz. A demanda técnica vai além do aprender a programar, segundo ele: “até porque boa parte da programação está sendo automatizada”.
“Então, isso diz mais a respeito ao entendimento de design e arquitetura de sistemas, para que a IA trabalhe de fato como aliada”, completou.
A segunda premissa é justamente a alfabetização. Stephens defende que professores, advogados e outros profissionais precisam ser capacitados para realizar a versão futura [com IA] de seus trabalhos. “Eu sou um professor e continuarei dando aulas, por exemplo. Mas preciso entender como fazer isso utilizando um assistente de IA”, disse.
Atuando com nuvem e o que ele chama de inferência (veja mais a seguir), Stephens correlaciona a alfabetização de IA com o desenvolvimento de competências “quase que socioemocionais dos profissionais”.
Mobilidade social com IA
Segundo ele, os modelos de linguagem desenvolvidos por big techs como a IBM, a Meta e a OpenAI, funcionam porque foram desenvolvidos e aprimorados continuamente com grandes volumes de dados. “No entanto, quando utilizamos esses modelos, o que ocorre na prática é um processo chamado de inferência — etapa em que o modelo já treinado é executado para gerar respostas. É exatamente nesse ponto que entra a Groq, ensinando a customizar esses sistemas e oferecendo infraestrutura para rodar esses modelos com alta performance na nuvem, otimizando o processo”, diz.
A Groq tem uma rede de aproximadamente 1,2 milhões de desenvolvedores no mundo, que atuam em soluções para linguagem única de processamento (LPU) para inteligência artificial. “Com essa atuação, temos percebido a necessidade de capacitação nos nossos clientes corporativos, e entendo que isso é totalmente natural”, pondera Stephens.
Ele destaca que, até o final de 2022, quando o ChatGPT se popularizou, as pessoas passaram a ter de aprender a lidar com a IA em todas as áreas de negócios. “Mais do que isso, as empresas estão realizando muitos investimentos, no intuito de que todos os departamentos tenham IA implementada. Isso é complexo até mesmo para as equipes de tecnologia, pois muitos não trabalhavam com LLM e agora estão tendo de trabalhar, tanto para atender à própria profissão quanto para suprir os anseios da empresa”, avaliou o especialista da Groq.
Em países em desenvolvimento, na visão de Justina, a capacitação para uso de IA é mais importante, na medida em que pode ser um nivelador social importante. “Haverá uma maneira de trabalhar em conjunto com agentes de IA. Mas as pessoas terão de ter capacidades críticas para ver os riscos, conversar com esses agentes de IA e selecionar/editar. Portanto, elas precisarão entender o máximo que puderem para poder interagir com a tecnologia de forma eficiente”, disse.
Segundo ela, já há universidades no Brasil e no México trabalhando nessa capacitação, para que os futuros profissionais saibam criar soluções nas plataformas da IBM e, com isso, trabalhem em colaboração profunda com a IA quando ingressarem no mercado de trabalho. “Quando o assunto é inteligência artificial, portanto, precisamos focar na próxima geração de talentos”, concluiu.