A Claro tem uma estratégia direta relacionada ao consumo de energia em suas operações: avançar além do uso de fontes renováveis e adotar a eficiência energética como política complementar à combinação de contratação de energia no mercado livre e autoprodução.
Hoje, cerca de 80% do consumo de energia na companhia vêm de fontes renováveis. Os 20% restantes são de instalações de baixa tensão, que dependem da regulação para poderem migrar ao mercado livre, o que só deve acontecer a partir de 2027.
Dona de várias usinas, inclusive de biocombustíveis a partir de resíduos urbanos, a Claro também monitora o consumo de data centers e de toda sua infraestrutura, de olho no aumento da demanda por energia a partir do uso da IA e outras inovações.
Nessa entrevista, Hamilton Silva, diretor de Infraestrutura, Logística e Administrativo da Claro, explica como a companhia tem perseguido suas metas, inclusive na descarbonização. Acompanhe.
Como a Claro enxerga a associação entre digitalização e transição energética?

Os mercados de energia e telecomunicações são cada vez mais interdependentes. Quando falamos de transição energética, precisamos entender que essa energia não será possível sem alto nível de digitalização. Ou seja, não digitalizar é uma barreira para a abertura de mercado. Porém, a digitalização também aumenta a demanda por energia.
Se queremos ser mais digitais, aumentar a capacidade de processamento e gerir um alto volume de dados, vamos demandar mais energia. Então, um não viverá sem o outro. Os dois vão ter que crescer relativamente juntos, apesar de serem indústrias separadas. Vou dar um exemplo dos medidores inteligentes de energia dentro das casas dos consumidores ou das indústrias. Ele passa a ser um equipamento de energia ou de telecom? Vai precisar de conectividade para buscar esses dados de energia dentro da casa do cliente e também tem que ser um equipamento que mensure a energia e transmita isso através da rede de telecom. É um mercado comum, de transição energética e extremamente interdependente.
A esse respeito, como é a demanda energética da Claro?
Como empresa de telecom, a Claro é grande consumidor de energia em todo o país. Quando a gente soma esse montante de consumo, chegamos a 130 GWh. Outra característica deste setor é que um terço disso é consumido por data centers, prédios técnicos ou híbridos (técnico e administrativo). Um terço do consumo é de média tensão. Os outros dois terços – de baixa tensão – são direcionados para alimentar fontes de energia, como pequenos hubs e rede de HFC (híbrida de fibra óptica e cabo coaxial).
Vocês compram energia do mercado livre?
A compra de energia de outros fornecedores – que não apenas as concessionárias locais – acontece desde a abertura do mercado. Sempre olhamos para a oportunidade de buscar alternativas, entre elas, ir para o mercado livre, no caso de alta e média tensão.
Outra possibilidade foi criar as nossas próprias usinas. A Claro sempre se posicionou como compradora de fontes renováveis para atender um terço de energia em média tensão. Para os outros dois terços, começamos a ter geração distribuída, com usinas solares, que hoje chegam a mais de 100 instalações.
Na baixa tensão, somos uma das empresas que mais tem usinas de energia no Brasil e fomos pioneiros. Começamos a nos posicionar com um viés financeiro, de necessidade, mas algo que acertamos desde o começo foi escolher fontes renováveis.
Como está esse posicionamento no mercado livre agora?
Sempre diversificado, com várias usinas, de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) a biocombustíveis. Nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro somos abastecidos por usinas de biogás de aterro sanitário, as duas maiores do país em geração distribuída. Com isso, 80% da nossa demanda é gerada por fornecedores do mercado livre ou por nossas próprias usinas. Ou seja, de fontes comprovadamente renováveis. 70% desse montante de energia são provenientes de fonte solar.
Uma vez que a Claro tem uma matriz majoritariamente limpa, como fica a questão de descarbonização?
Somos signatários do pacto global da ONU, o que significa que temos duas datas-chave: 2030 e 2050. As metas de redução de emissão de dióxido de carbono são de 52% para os escopos 1 e 2 até 2030. E de 14% para o escopo 3, com a mesma data. Já em 2050 a meta é como a da maioria das empresas, ou seja, zerar. Nesse sentido, o grande alavancador tem sido o programa de energia da empresa. Somente 20% da demanda de energia é fornecida pelas concessionárias tradicionais e de onde não podemos ter a certeza da fonte totalmente limpa. Buscamos outras ações de eficiência para tentar alcançar a meta de 2050 e também, se possível, antecipar. Um exemplo é a migração de combustível fóssil para etanol na frota de veículos técnicos que atendem o mercado. Fizemos testes com veículos elétricos, mas o preço deles ainda é uma barreira de entrada.
Em termos de demanda, como a Claro analisa o consumo de processamento de inteligência artificial em data centers?

Haverá um crescimento muito grande no consumo de energia elétrica desta categoria nos data centers, seja pelas demandas de IA ou de cloud computing. Os estudos dizem que o consumo dobrará e os testes que temos feito em alguns data centers indicam esse caminho. Nosso programa de energia permite acompanhar a tendência, porque é escalável. Portanto, temos a chance de seguirmos com esse programa para abastecer o consumo com as fontes que nós temos, sem buscar fornecimento adicional nas concessionárias tradicionais.
Além de IA e edge computing, vamos acrescentar a oferta de SD WAN. Eles também aumentam o consumo?
Sim, na medida que edge computing suporta aplicações de baixa latência, o que é comum no 5G. Não sabemos se vai aumentar tanto quanto um serviço de cloud, data center ou não, mas vai crescer, assim como o SD WAN. Estamos preparados para isso. Apesar do posicionamento confortável, continuamos buscando eficiência não mais na conta de energia, mas no consumo. Um exemplo é calibrar a potência das antenas de acordo com a demanda, reduzindo o consumo. Podemos aumentar, de novo, de acordo com a demanda de clientes. Também monitoramos o parque de ar-condicionado que atende os data centers, entre outras ações. Estamos fazendo um processo de sinergia de torres – a Claro adquiriu infraestrutura de outras operadoras – e quando há redundância, otimizamos a cobertura.
Gostaríamos de ver a redução do consumo, mas por outro lado estamos ampliando o 5G e isso consome energia, porque requer novos equipamentos e mais processamento, inclusive maior demanda de data centers. Mesmo assim, vemos uma estabilidade no consumo de energia.
A matriz limpa de energia da Claro tem um apelo para os clientes?
Nós estamos sentindo, nos últimos cinco anos, um interesse e uma preocupação crescente em sustentabilidade. Qual é a vantagem que esses clientes têm quando contratam os serviços da Claro? Os nossos data centers são supridos com energia sustentável, então os serviços neles prestados geram ganhos no escopo 3 de descarbonização. Os clientes também buscam a Claro para ampliar os serviços que prestam, o que inclui processamento de dados, serviços de TI, nuvem e inteligência artificial. Então, com isso, é possível transferir essa descarbonização para o cliente.
Como a Claro vê o potencial de comercializar energia em parcerias com outros empreendimentos dessa área?
Estamos estudando o mercado e a forma que a Claro pode se posicionar nele. Já fizemos testes, com uma oferta final de combo que inclui a comercialização de energia. É interessante porque os dois mercados exigem a capacidade para tratar grandes volumes de dados, em atividades que envolvem faturar, cobrar e atender. A Claro tem uma capacidade de venda absurda e uma base de cliente estimada em milhões. Os movimentos vão depender da abertura de mercado para a baixa tensão e a energia pode ser mais um produto do portfólio da empresa.
Como é que fica o mercado de carbono para vocês?
A Claro acompanha o mercado de carbono visando suas emissões indiretas, mas o que nós estamos fazendo agora é justamente esgotando todas as ações de eficiência que deveríamos fazer para baixar a pegada de carbono. A empresa não é carbono neutra, mas tem várias ações com baixa pegada de carbono e busca o máximo que pode em descarbonização. Se formos para esse mercado no futuro, esperamos que ele esteja devidamente regulado e maduro.
A Claro tem programas de economia circular?
Sim, uma parte da descarbonização acontece por esse meio. Fizemos, por exemplo, uma revisão extensa da nossa malha logística, o que trouxe uma otimização de rotas e economia de milhares de litros de diesel em transporte.
Também trabalhamos na eficiência por meio de várias iniciativas, como o Claro Recicla. É um programa de retirada de equipamentos que estejam em desuso, para substituição. Se algum equipamento está sendo retirado na modernização de torres, vamos direcioná-lo para o descarte adequado. Da mesma forma, fazemos a destinação dos dispositivos que ficam em comodato na casa dos clientes. Já fizemos, por exemplo, o reprocessamento do plástico de equipamentos retirados nos clientes, que viram controles remotos ou embalagens técnicas.