O turismo global está se transformando, impulsionado pela inteligência artificial (IA) e por algoritmos de machine learning. O que antes era uma oferta genérica para o grande público, agora, se tornou uma experiência sob medida, moldada pelas preferências e comportamentos individuais de cada viajante. A revolução digital não apenas otimiza a operação das empresas, mas também eleva a satisfação do cliente a um novo patamar.
Segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT), o setor está em franca recuperação, aproximando-se dos níveis pré-pandemia. Esse crescimento está sendo atrelado à adoção de tecnologias inteligentes, que vêm redefinindo a dinâmica do mercado.
O turismo digital, em particular, é um campo no qual o impacto da IA é mais visível, com agências online, companhias aéreas e redes hoteleiras investindo fortemente em soluções baseadas em aprendizado de máquina.
A força dos dados
A personalização no turismo é impulsionada por uma análise sofisticada de grandes volumes de dados. Informações como geolocalização, histórico de navegação, preferências anteriores e até interações em redes sociais são combinadas para criar um perfil detalhado do viajante. Esse mapeamento permite que as empresas do setor ofereçam experiências cada vez mais personalizadas, feitas sob medida, desde a escolha do destino até os mínimos detalhes da hospedagem e das atividades.
Estudos de mercado corroboram essa tendência. O relatório da MarketsandMarkets registrou o crescimento do mercado global de IA no turismo, de US$ 2,95 bilhões em 2024 para US$ 13,38 bilhões em 2030, com uma taxa composta de crescimento anual (CAGR) de 28,7%. Esse boom é alimentado pela popularização de ferramentas como chatbots, sistemas de recomendação e análise preditiva, que aprimoram tanto a experiência do cliente quanto a eficiência operacional.
O turismo inteligente pode trazer benefícios também para as cidades e as empresas. João Del Nero, gerente de data analytics da Claro empresas, citou, durante o Connected Smart Cities 2024, dados como os da Fecomércio, que mostram que o turismo no Brasil cresceu 8%. “Esse é um indicador importante para a tomada de decisão, mas podemos ir mais além”, disse ele, apresentando o Claro Geodata. A ferramenta baseia-se no monitoramento da movimentação das pessoas por meio de seus celulares, de forma anonimizada, mas fornece detalhes relevantes para empresas do setor de turismo tomarem decisões baseadas em dados.
Além disso, para Antonio Andrade, head de Operações da Kido Dynamics, parceira da Claro empresas, os dados obtidos pelo Geodata são complementares e podem auxiliar as cidades no desenvolvimento do turismo inteligente. “Muitas vezes, os gestores de turismo não sabem quantas pessoas visitaram a cidade em determinadas épocas. A taxa de ocupação de hotéis é uma forma de se ter uma ideia disso, mas não é suficiente, pois muitas pessoas se hospedam em imóveis alugados, na casa de familiares ou apenas passam pela cidade sem pernoitar, o que não significa que não tenham visitado o local”, destacou.
IA no turismo

A adoção de tecnologias inteligentes está gerando uma série de transformações cruciais no setor.
- Personalização de ofertas: algoritmos analisam o comportamento do usuário para sugerir destinos, hospedagens e atividades que se alinham perfeitamente aos seus gostos e orçamento.
- Otimização de preços: ferramentas de IA ajustam os valores dinamicamente, levando em conta a demanda, a época do ano, eventos locais e até mesmo a moeda do cliente.
- Chatbots inteligentes: assistentes virtuais, treinados com processamento de linguagem natural (NLP), oferecem atendimento automatizado, fornecendo suporte ágil e preciso aos clientes.
- Recomendações automatizadas: sistemas inteligentes identificam locais visitados anteriormente e sugerem novos roteiros, com base em avaliações e perfis semelhantes.
- Análise preditiva de demanda: modelos avançados preveem os destinos mais procurados com antecedência, permitindo que as empresas aloque recursos e planejem estratégias de forma mais eficaz.
Esses recursos não apenas conferem maior eficiência operacional às empresas, como também proporcionam uma experiência de compra mais fluida e intuitiva para o consumidor. A análise contínua de dados é o alicerce para a construção de soluções que se adaptam constantemente ao comportamento dinâmico dos viajantes.
Vantagens competitivas
A personalização impulsionada pela IA tornou-se um diferencial competitivo inegável. Segundo um relatório da McKinsey & Company, empresas que adotam estratégias baseadas em dados e aprendizado de máquina registram um aumento significativo na fidelização de clientes e na conversão de vendas. O turismo não é exceção: ao oferecer conteúdo adaptado e relevante, as chances de um usuário realizar uma compra e retornar à plataforma aumentam consideravelmente.
Com o avanço das ferramentas de análise comportamental, o setor turístico está aplicando estratégias de segmentação cada vez mais refinadas. As antigas divisões por faixa etária ou renda foram substituídas por critérios como estilo de viagem (aventura, descanso, cultura), tempo ideal de permanência e gastos médios diários. Nesse cenário, os pacotes de viagens ganham uma nova configuração, com plataformas digitais utilizando IA para montar propostas dinâmicas, ajustando destinos, preços, horários e experiências de acordo com os perfis dos consumidores. Esse processo, conhecido como “customização preditiva”, permite antecipar as escolhas do cliente.
Empresas do setor estão incorporando sistemas que combinam big data e algoritmos de recomendação para aumentar a taxa de conversão. Em segundos, após o usuário navegar por algumas opções em um site, ele já começa a receber ofertas adaptadas, levando em conta fatores como tempo de navegação, tipo de clique, locais buscados e até o idioma do navegador.
Neste cenário, o turismo se consolida como uma das áreas mais promissoras para a aplicação de tecnologias inteligentes, unindo inovação, experiência do usuário e inteligência de mercado. A IDC projeta que, até 2027, 55% das organizações de hospitalidade e viagens investirão em dispositivos alimentados por IA e IoT, buscando identificar e reduzir desperdícios em 20% e otimizar a eficiência operacional.