Futurecom
Painel de discussão no evento Futurecom 2025 sobre redes privativas, conectividade B2B e tecnologias de redes para o futuro do setor de telecomunicações. Da esquerda para a direita: Fabiano Funari, Karina Baccaro, Eduardo Massaud, Juliano Moreira, Gustavo Moura, Maurício Felix Vasconcellos, Alexandre Vallejo e Eduardo Tude (Foto: Rodrigo Conceição Santos)

Redes privativas 5G vão de mídias às indústrias e siderurgias

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Combinadas com computação de borda, inteligência artificial e rede pública, tecnologia tem ampliado experiências da produção de chocolates à transmissão de futebol



Por Rodrigo Conceição Santos em 03/10/2025

Para transmitir um desfile de carnaval, a Globo chegava 30 dias antes na Sapucaí para montar redes complexa de cabos, necessários para suportar as dezenas de câmeras estrategicamente posicionadas para a captação das melhores imagens. Durante o espetáculo, câmeras móveis complementavam a cobertura, transmitindo o sinal por rádio com microssistemas (microlinks), já que não era possível atravessar cabos na avenida. Ou seja: além de um processo complexo e custoso – pois nesses 30 dias era preciso prover equipe, segurança e todo o background operacional – as transmissões das câmeras móveis limitavam a qualidade aos poucos mbps que a tecnologia microlink suporta transmitir.

A dinâmica não era diferente em partidas de futebol e transmissões de outros grandes eventos. Mas, agora, a experiência – e a operação – tem mudado, graças às aplicações suportadas por redes privativas 5G e, por vezes, complementadas pela rede pública 4G ou 5G.

Já neste mês de outubro, a Globo vai transmitir jogos do Maracanã por meio de uma infraestrutura 5G fixada no estádio. A transmissão ocorrerá por faixa de frequência outorgada, de 3,7 GHz e os equipamentos necessários – que foram os mesmos utilizados na transmissão do carnaval do Rio deste ano – ficarão, a partir de então, fixados no estádio, conforme detalha matéria do Mobile Time.

“As redes 5G têm altíssima capacidade de transmissão, baixa latência e qualidade de serviço. Começamos a olhar com mais carinho para elas porque conseguimos aumentar a produtividade. Em um jogo de futebol, por exemplo, era preciso chegar dias antes para passar cabeamento. Hoje, com equipamento móvel de quatro antenas, chegamos com a infraestrutura de transmissão pronta”, disse Maurício Felix Vasconcellos, Diretor Executivo de Tecnologia da Globo.

Diferentemente do Maracanã, que terá uma rede privativa 5G fixada, a Globo está equipando vans – chamadas de unidades móveis de transmissão – com antenas e processamento de borda (edge computing), além de outros ferramentais necessários. Dessa forma, pode deslocar sua infraestrutura privativa de 5G para diferentes estádios e garantir a transmissão de qualidade em todos eles. “Os sinais trafegam a 30 ou 40 Mbps. Só com o 5G se consegue entregar essa capacidade de forma estável”, detalhou Vasconcellos.

A Globo também trabalha na estruturação de sua rede privativa 5G com core centralizado, de modo que as antenas possam ficar instaladas tanto em ambientes fixos quanto nas unidades móveis e serem gerenciadas por lá. “A visão de arquitetura é clara: precisamos de rede privativa para garantir qualidade e segurança na conexão, mas temos também de integrar essa rede às redes públicas das operadoras, porque estamos em todos os lugares”, acrescentou.

A emissora também testa novas possibilidades de monetização e otimização com o uso de ondas milimétricas (millimeter wave) e edge computing. Inclusive, a matéria do Mobile Time, citada acima, traz projeções dessa aplicação no Maracanã. Conforme apurou o Próximo Nível durante o Futurecom 2025, porém, uma das provas de conceito em andamento é a transmissão de eventos com até 20 câmeras, em que um edge instalado na ponta realiza a seleção dos frames relevantes de cada equipamento. Assim, apenas esses trechos são transmitidos a longa distância, reduzindo o consumo de banda e aumentando a eficiência do processo.

“O uso do edge computing traz ganhos claros: conseguimos selecionar os frames na borda, enviar só o que é realmente necessário e reduzir custos de transmissão. O millimeter wave é importante para garantir essa capacidade de entrega em eventos com alta densidade de dados”, destacou o diretor executivo da Globo.

Com essa abordagem, a empresa não apenas moderniza sua operação, mas também abre espaço para criar novos modelos de negócio e serviços, monetizando a rede privativa em escala.

Monetizar a rede, aliás, é condição importante para justificar o investimento nesse tipo de infraestrutura. E a Nestlé sabe bem disso. Com projeto de rede privativa desde 2018, hoje a empresa está avançada na jornada de Indústria 4.0.

Gustavo Moura, Gerente Executivo de Automação e Transformação Digital da Nestlé, explicou que o ponto de partida foi o crescimento do volume de dados coletados nas linhas de produção. “No começo, entendemos que para tudo funcionar de forma orquestrada era preciso uma infraestrutura adequada. A rede privativa 5G foi a opção escolhida”, disse Moura.

A primeira experiência ocorreu no parque tecnológico onde a Nestlé está inserida, em um ambiente de experimentação voltado a avaliar diferenças de latência e desempenho. O passo seguinte foi levar a rede para dentro da fábrica de Caçapava (SP), onde são produzidos chocolates da marca KitKat e outros produtos.

O projeto começou em uma área de mil metros quadrados e hoje já cobre quatro mil metros quadrados da planta industrial. A rede privativa 5G é usada para controle otimizado de veículos autônomos que transportam produtos acabados, garantindo que encontrem rotas rápidas e inteligentes. Ela também serve de base para sistemas de gestão de qualidade que utilizam câmeras para coletar imagens, processá-las em tempo real e devolver análises automáticas sobre os padrões dos produtos.

“O 5G é uma tecnologia habilitadora, que dá os recursos para que as aplicações aconteçam. Mas não adianta simplesmente instalar a rede e virar as costas. É uma jornada: a rede precisa estar junto com as aplicações e plataformas para permitir novos usos, em parcerias com empresas como a Claro”, destacou.

Realidade aumentada, deep learning e integração IT/OT

Entre as aplicações exploradas pela Nestlé estão realidades virtual e aumentada para treinamento de colaboradores. Em redes convencionais, os testes costumavam gerar desconforto devido ao atraso entre a visão e a percepção do labirinto interno (estrutura do ouvido humano responsável pelas funções de audição e equilíbrio). Com o 5G, esse atraso é praticamente imperceptível, melhorando a experiência, segundo Moura.

Outro avanço ocorreu na gestão do volume de dados industriais. O especialista da Nestlé adiantou que processos de deep learning exigem respostas rápidas, algo que a rede 5G provê, mas que também pode ser obtido em redes 4G, a depender da aplicação. “É preciso avaliar caso a caso e, desde o começo, entendemos que não conseguiríamos fazer isso sozinhos. Por isso, trabalhamos com o ecossistema e com a Claro para definir as melhores soluções”, lembrou.

Ele considerou que a integração entre IT (tecnologia da informação) e OT (tecnologia operacional) foi fundamental nesse caso, culminando na utilização mais ampla da rede privativa. “O investimento em rede privativa é considerável. Se for para implantar um único caso de uso, talvez o investimento não se justifique. Por isso, é preciso pensar em múltiplos usos desde o início, o que faz com que os custos diminuam à medida que os benefícios se ampliam”, explicou.

Eduardo Massaud, gerente de produtos da Claro empresas, acrescentou que as redes privativas 5G são mais robustas do que redes móveis locais (Wi-Fi), e isso se dá, principalmente, pela garantia de espectro licenciado e, portanto, livre de interferências das operadoras de telecomunicações. “Temos uma gama de espectro enorme em várias faixas de frequência, que nos permite fazer trade-off de cobertura com 4G e 5G e entregar redes privativas completas. Podemos, por exemplo, implementar um core dentro do cliente ou integrá-lo à rede pública. Além disso, os nossos clientes podem ter acesso a um arcabouço de soluções unificadas oferecidas pela Claro empresas em um único ambiente”, completou.

Eduardo Massaud e Juliano Moreira (Foto: Adriana Otero)

Casos de uso já foram implementados em empresas como Gerdau, Usiminas e Ternum. Em alguns locais, foi possível aproveitar parte da infraestrutura existente e, em outros, foi instalado o sistema de rede privativa 5G do zero, segundo Massaud. “Quanto à monetização dessas infraestruturas, há processos de integração com soluções de cloud, inteligência artificial e edge computing”, disse. “Todos os clientes têm necessidade de cloud, aliás. Quando levamos isso junto com a rede privativa, conseguimos garantir edge computing também, reduzindo custos de transmissão e permitindo decisões rápidas na borda, otimizando o consumo de energia e de largura de banda”, detalhou.

Inteligência artificial no edge e slicing por aplicação

Ele também pontuou o uso de inteligência artificial no edge computing para otimizar recursos. “Se hoje todo mundo que busca no Google migrasse para buscas por IA, o consumo de energia mundial colapsaria. Faz todo o sentido levar a IA para o edge, porque assim reduzimos custos de transmissão e implementamos redes de forma mais eficiente”, exemplificou Massaud.

Segundo ele, clientes como a Nestlé podem centralizar um core de rede em uma fábrica e expandir para outras unidades, aproveitando a escala. E, justamente por isso, já há casos de aplicações como câmeras de vigilância que já estão migrando da fibra para o 5G. “Com IA no edge, conseguimos otimizar a análise, economizar energia, reduzir latência e acelerar a tomada de decisão na borda”, explicou.

Para casos críticos, como cirurgias a distância, o fatiamento da rede (network slicing), combinada ao edge computing, amplia a confiabilidade da transmissão de dados. “Imagine uma cirurgia de João Pessoa a São Paulo, mais de 2,7 mil quilômetros de distância. Não existe milagre: se não fizer parte do processamento na borda e garantir uma fatia da rede para a transmissão, não vai funcionar”, concluiu.



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