A herança de uma industrialização tardia e de um processo que levou ao endividamento externo na década de 1980, somada à falta de atualização tecnológica, deixou o Brasil atrás de países que apostaram mais cedo em inovação e mão de obra qualificada. Para o economista da FGV e ex-secretário-executivo da Fazenda Márcio Holland, a industrialização do país torna-se ainda mais complexa diante da velocidade da depreciação do parque industrial e do ritmo acelerado do avanço tecnológico.
O tema da neoindustrialização será objeto de discussão no painel “Política de Nova Industrialização” do Futurecom. O debate vai reunir especialistas da ABINEE, BRASSCOM, P&D Brasil e FUNTTEL. O objetivo é avaliar caminhos e instrumentos para a reindustrialização e a modernização do parque produtivo nacional.
Segundo o ex-presidente do Insper e ex-secretário do Ministério da Fazenda Marcos Lisboa, em reportagem veiculada na CNN, um dos fatores que explicam a defasagem do parque brasileiro é a velha percepção de que indústria é fábrica de montagem e não inovação.
“Os lobbies convenceram o debate público que indústria não é computação, IA, nem inovar em outros setores. E isso levou ao nosso atraso. Países que cresceram optaram por novas tecnologias, pela inovação, pelo investimento em mão de obra qualificada, e não pela velha montagem, com baixo valor adicionado”, explicou Lisboa.
Nova Indústria Brasileira já apresenta resultados
Diante da necessidade de promover uma neoindustrialização brasileira, o governo lançou em janeiro de 2024 o programa Nova Indústria Brasileira (NIB), que totaliza R$ 3,4 trilhões, sendo R$ 1,2 trilhão públicos e R$ 2,2 trilhões privados, previsto para até 2033. A NIB é formada por quatro eixos estratégicos: (1) Indústria mais Produtiva, (2) Indústria mais Inovadora e Digital, (3) Indústria mais Exportadora e (4) Indústria mais Verde. Além disso, é composta por seis missões que cobrem áreas como saúde, agroindústria, infraestrutura, bioeconomia e defesa.
Passado pouco mais de um ano do lançamento, a NIB apresenta resultados significativos de crescimento que auxiliam o setor a superar os desafios. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), pode-se observar, já no primeiro ano, um “crescimento de 3,1% da produção industrial, de 9,1% do setor de bens de capital e de 3,5% do setor de bens de consumo, sendo de 10,6% de bens de consumo duráveis”.
Somado a isso, com base na Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido), o Brasil passou da 70ª para a 40ª posição no ranking global de produção industrial, na comparação do 2º trimestre de 2024 com o mesmo período de 2023. A indústria também chegou a 83% de utilização da capacidade instalada e teve um crescimento de 146% na geração de empregos.
Investimentos para superar desafios

O programa ganhou R$ 12 bilhões em linhas de crédito adicionais, com juros abaixo do mercado, para renovar a indústria brasileira com tecnologias 4.0. De acordo com o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, o recurso é voltado para “bens de capital, então máquinas, equipamentos que vão fazer com que a indústria ganhe competitividade, reduza custos, modernize o parque industrial brasileiro, que tem uma média de 14 anos”, informou o Valor Econômico. Já o programa Depreciação Acelerada, lançado em maio de 2024, direcionou R$ 3,4 bilhões para estimular investimentos em competitividade, produtividade e eficiência energética.
Segundo o Monitor da Indústria 4.0 – Report, o investimento na Indústria 4.0 pode gerar uma economia anual de R$ 73 bilhões. A aplicação tecnológica pode contribuir para maior eficiência e produtividade, bem como para menor consumo energético e emissão de gases poluentes. O documento informa, ainda, que a implementação de tecnologias relacionadas à Internet das Coisas (IoT) pode adicionar US$ 39 bilhões ao PIB até 2030 e até US$ 210 bilhões se houver avanços em infraestrutura e difusão tecnológica.
No contexto de neoindustrialização, é estratégico que o país detenha o conhecimento técnico para poder avançar tanto no desenvolvimento tecnológico quanto na capacitação de profissionais qualificados. Nesse sentido, a Confederação Nacional da Indústria (CNI), por meio do “Perfil da Indústria Brasileira”, revelou uma participação de 66,8% da indústria no investimento empresarial em P&D. Entre os focos de investimentos estão veículos automotores (16,8%), químicos (15,4%), farmoquímicos e farmacêuticos (8,5%), e máquinas e equipamentos (8,4%).