redes 5g Foto: Reprodução/ Tele.Síntese

Grandes projetos amadurecem mercado de redes privativas 5G

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Retorno de investimentos, em iniciativa de larga escala em produção, reforça criação de casos de uso que exploram funcionalidades e segurança, em modelos transformadores de operações e negócios



Por Vanderlei Campos em 26/11/2024

Com objetivos e formas de utilização muito peculiares em cada setor, como em grandes companhias de mídia, mineração, petróleo, logística, agronegócio e outras indústrias, as redes privativas 5G já estão muito além da fase de PoCs (provas de conceito). Ao mesmo tempo em que resolvem e simplificam os gargalos de performance, custo e segurança em aplicações pesadas, novas soluções de IoT viabilizam a criação de processos mais ágeis e precisos. Os resultados e o retorno de investimento implicam tanto no desdobramento dos projetos quanto sinalizam o caminho para outras companhias.

O tema foi discutido por especialistas da indústria e de operadoras no evento IoT e redes privativas, promovido pela Tele.Síntese. Embora o debate, na ocasião, tenha tido foco nas experiências e oportunidades com 5G, os casos de uso com LTE não estão excluídos. “É praticamente impensável se cobrir uma grande fazenda com as frequências do 5G”, exemplifica Eduardo Massaud, gerente de produto de Redes Privativas da Embratel (agora Claro empresas).

Eduardo Massaud (Foto: Reprodução/ Tele.Síntese)

O especialista explica que os projetos de redes privativas são muito customizados, conforme as variáveis do caso de uso. “Temos frameworks para dimensionar os custos, mas cada cliente traz projetos com premissas específicas de cobertura, segurança e operação”, conta. Massaud observa que, embora continuem a ser executadas as provas de conceito, os investimentos se aceleram em 2025 a partir do resultado dos projetos em produção e se escalando nos diversos setores. “Ainda havia muitas companhias comprando soluções para campus. O 5G supera limitações e já temos grandes clientes com redes ativas”, menciona. “O retorno de investimento na rede privada também é muito rápido”.

Casos de uso

“Os dois direcionadores (do desenvolvimento das redes privativas) são viabilidade de negócio e casos de uso”, resume Tiago Facchin, gerente de tecnologia do Grupo Globo. Ele explica que para a emissora não é novidade trabalhar com redes privativas, mas até a década passada, evidentemente, isso dependia de links privados. Em 2018, começou a usar 4G e hoje explora recursos do 5G, como redes móveis e network slicing.

redes 5g
Tiago Facchin (Foto: Reprodução/ Tele.Síntese)

Nos centros de produção da Globo, aplicações que envolvem vídeo HD, alta densidade de câmeras fazendo upload, baixíssima tolerância à latência, alta disponibilidade e segurança já justificam, por si só, a adoção de uma tecnologia que endereça nativamente todos esses requisitos. “No ambiente de estúdios, temos uma dinâmica em que sofríamos com a infraestrutura física”, lembra.

Em grandes coberturas ou transmissão de eventos externos, Facchin conta que às vezes levava semanas para instalar a infraestrutura. “Hoje, em poucos dias implementamos as unidades de produção remota”, compara. Com a função de networking slicing, são segregados canais com QoS (qualidade de serviço) e seguros, mantendo a estabilidade das transmissões mesmo com alta densidade de dispositivos. O gerente de tecnologia observa que, junto à transformação de infraestrutura, a rede muda a dinâmica do jornalismo e das transmissões ao vivo. “Hoje a conectividade é a parte mais tranquila para coberturas em larga escala”, avalia. Ele pondera que o lado em que se esperam avanços é na oferta de dispositivos (habilitados para 5G).

“Facilitar a homologação de equipamentos é um grande avanço”, concorda Rosana Sant’Ana Pereira, gerente de telecomunicações da Energisa. “A distribuição de energia depende de redes privativas. Praticamente todas as instalações são sensorizadas. Precisamos de conectividade padronizada e dados seguros”, esclarece.

Rosana Sant’Ana Pereira (Foto: Reprodução/ Tele.Síntese)

“A Anatel busca um processo ágil de licenciamento, que hoje é mais fácil e com taxas módicas”, diz Felipe Roberto de Lima, gerente de regulamentação da agência reguladora. Nem todos os ensaios e testes têm o mesmo custo. Em IoT, muitos produtos compartilham chipsets”, nota.

Escala, missão crítica e soluções customizadas de IoT

“O crescimento em redes privativas vem da importância de IoT e automação, essenciais para a competitividade. Mesmo em áreas de boa cobertura 4G e o 5G em expansão, as redes públicas não atendem a todos os requisitos de IoT”, diz o gerente da Anatel.

Felipe Roberto de Lima (Foto: Reprodução/ Tele.Síntese)

“Se perdemos a conectividade, a companhia para”, afirma Lilian Sampaio, gerente de relacionamento TI da Anglo American Brasil. “A mineração depende muito da rede. Há caminhões com 12 aplicações embarcadas”, esclarece.

O setor de mineração é um dos mais destacados em investimentos em sensoriamento, dispositivos autônomos, edge computing e, consequentemente, redes privadas com alta qualidade e segurança. “Os sistemas conectados otimizam muito os custos de manutenção e operação. O maior ganho na automação da frota, contudo, é tirar trabalhadores de funções perigosas”, destaca.

Lilian Sampaio (Foto: Reprodução/ Tele.Síntese)

A gerente da mineradora informa que a infraestrutura, hoje, é planejada para 5G. “Ainda temos redes distintas e o objetivo é ter uma para todos os serviços”, esclarece.

“O importante para empresas de base industrial é como executar os projetos (de IoT) em escala. É difícil uma implementação em 30 refinarias”, diz Diogo Lino Machado, gerente de TIC para Logística da Petrobras. Ele informa que desde 2018 a empresa usa uma rede LTE para aplicações críticas de monitoramento.

“Quando se fala em aplicação crítica, se pensa em veículos autônomos ou redes de IoT em uma central elétrica. Isso tudo realmente exige altos níveis de tempo de resposta, confiabilidade e segurança. Mas para a Globo, transmitir um acontecimento em tempo real, com qualidade, faz parte da missão essencial”, observa Massaud, da Embratel.

“85% dos casos de uso (de IoT) se resolvem com 4G”, afirma Alberto Rodrigues, diretor de desenvolvimento de negócios da Nokia. Ele explica que há casos em que se precisa da informação em tempo real e outros de informação tempestiva. “Seriam necessárias muitas antenas para sensorizar uma barragem com 5G”, argumenta.

Alberto Rodrigues (Foto: Reprodução/ Tele.Síntese)

Em contrapartida, ele aponta que a expansão da disponibilidade do 5G encoraja os desenvolvedores de dispositivos e aplicações a trabalhar com a premissa de baixa latência. “Com óculos de realidade aumentada, qualquer atraso atrapalha a experiência”, exemplifica. “Atualmente, há grande pressão por inovação em dispositivos. É onde os fabricantes de soluções têm mais a inovar”, acrescenta.

Rodrigues avalia que o mercado de redes privativas mantenha um crescimento de 20% ao ano. “Em mineração, só o ganho de produtividade com caminhão autônomo já paga o projeto (de rede privativa). Na maioria das companhias, o retorno ocorre em menos de 12 meses. E há ganhos como segurança para os trabalhadores. Outra vantagem é que a interface aérea já tem segurança robusta”, enumera.

Eduardo Massaud ainda lembra do 1G, o Amps, em que se clonavam terminais por captura de frequência. “Desde o 4G, os algoritmos não permitem quebra da interface aérea. Mas a operadora tem que agregar proteção fim a fim, tanto nos ambientes totalmente privados quanto em serviços compartilhados”, reconhece.



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