Governança de IA pode acelerar negócios, apontam especialistas

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Processos bem estruturados evitam shadow AI, fortalecem a segurança e transformam a IA em vetor de crescimento



Por Redação em 12/12/2025

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A governança de IA é crucial, não apenas por questões de ética e compliance, mas como um acelerador da estratégia de negócios. E não se trata apenas de estabelecer normas e sim ter estruturas bem definidas envolvendo as múltiplas áreas da empresa — do C-Level à tecnologia e jurídico.

Esse é o resumo da conversa de quatro especialistas no segundo episódio da série “Vamos habilitar o próximo novo? — Conversas”, apresentado pela Claro empresas e veiculada pelo Valor Econômico.

Mediado por Silvio Meira, cientista chefe da TDS Company, e Ronaldo Lemos, advogado, professor e diretor cientifico do ITS Rio, o encontro contou com a participação de Carol Sevciuc, diretora de transformação digital e inovação da PepsiCo, e de Rodrigo Assad, diretor de inovação do beOn Claro.

“A governança de IA é necessária para qualquer empresa, independentemente do tamanho e deve ser vista como um local de discussão e aprendizado, não como um entrave”, argumentou Carol. Assad concordou com ela e explicou que o processo é um embate que não deve ficar restrito às áreas técnicas.

“O desafio inicial da governança é por onde começar, para que a IA não se torne um “brinquedo caro” sem resultados mensuráveis”, argumentou. “A governança ajuda a medir o impacto da IA no negócio, determinando se é apenas um custo ou se gera um resultado qualitativo ou quantitativo”, completou o executivo da Claro.

Para Lemos, a governança tem a função de garantir que as decisões sejam implementadas dentro da empresa e seu avanço acontece de acordo com as melhorias da tecnologia.

Ronaldo Lemos, advogado, professor e diretor científico do ITS Rio
Ronaldo Lemos, advogado, professor e diretor científico do ITS Rio

Ele diferencia esse processo da regulação. Enquanto a governança permite a tomada e a efetivação de decisões, sendo facilitada pela IA em tempo real, a regulação, em função de seu caráter de lei, impõe obrigações. No caso da IA, a regulação determina, por exemplo, como deve ser a  aplicação da tecnologia de forma positiva e compatível com o que é exigido legalmente.

Shadow AI

Um dos principais benefícios da governança, de acordo com Lemos, é reduzir a chamada shadow AI, uso secreto e não autorizado no ambiente corporativo.

Tanto Meira como Carol apostam no letramento dos colaboradores como um recurso para evitar o uso da IA “no escurinho”, outra tradução apropriada desse problema. 

Silvio Meira, cientista chefe da TDS Company
Silvio Meira, cientista chefe da TDS Company

“Na PepsiCo, implementamos uma governança federada e focada em arquitetura e parceiros. Ela utiliza o conceito de “freedom in a box”, ou seja, liberdade dentro de uma caixa, onde as unidades de negócio podem adotar casos de uso se estes estiverem homologados em uma biblioteca de IA, o que acelera o processo e o impacto”, explicou.

Assad destacou o perigo da shadow AI na exposição de dados das companhias, alertando para o “limite do caos”, que é o vazamento de informações sensíveis como planilhas financeiras.

 Rodrigo Assad, diretor do beOn, o hub de inovação da Claro
Rodrigo Assad, diretor do beOn, o hub de inovação da Claro

De acordo com ele, a governança deve atuar como “guardrail” dos dados, permitindo que as pessoas sejam produtivas, mas de forma segura. “A área de segurança deve ser envolvida desde o começo”, aconselha.

Jornada de maturidade

O processo de engajamento da empresa na aplicação segura de IA é uma jornada que também exige paciência. Para os especialistas, a conscientização deve incluir toda a cadeia de valor, com atenção especial para os fornecedores menores que podem não ter uma governança adequada.

“Fornecedores pequenos devem adotar um mínimo de boas práticas, pois um incidente mata o negócio”, alerta Lemos. O advogado compara a jornada de maturidade da IA com a implementação da LGPD, que obrigou diversas áreas a conversarem internamente.

Em sua experiência, Carol explica que a maturidade começa com o entendimento dos frameworks existentes e criando uma convergência de agendas nas empresas. “O ponto de virada na PepsiCo foi incentivar a discussão de usos de caso no comitê de governança, fazendo as pessoas entenderem o impacto da IA na cadeia de negócios”, detalha.

 Carolina Sevciuc, diretora da Transformação Digital e Inovação da PepsiCo
Carolina Sevciuc, diretora da Transformação Digital e Inovação da PepsiCo

Assim como Carol, Assad tem o background de vivenciar a governança de IA em uma grande corporação. Na Claro, o processo envolveu a identificação das demandas potenciais na empresa e a criação de um comitê onde qualquer colaborador pode submeter uma possível aplicação, mas precisa explicar o benefício.

Ele sugere que a experiência aprendida em grandes empresas pode ser “encapsulada” e entregue para as pequenas e médias empresas (PMEs), ajudando-as a acelerar. “A grande dica é começar rápido, pequeno, mas crescer rápido, errando e corrigindo rapidamente”, explica.

Estágios de IA

A governança estratégica – e em tempo real – dos dados também precisa ser entendida de acordo com os níveis de complexidade da tecnologia.

“Dentro da PepsiCo, temos cenários em diferentes camadas. O banco de dados de consumidor, por exemplo,  está na primeira camada. Na área de vendas, eles já usam IA para identificar a localização de lojas e para melhorar o abastecimento de caminhões, obtendo maior precisão e  gerando menos desperdício”, detalha Carol.

No caso da Claro, uma das primeiras etapas de uso da IA aconteceu com a transcrição de 100% das ligações dos call centers, com a meta de escutar e aprender mais sobre o cliente.

“O diagnóstico ocorre ao entender por que o cliente está chateado. Ao cruzar o que o cliente fala com o que ele compra, conseguimos identificar a próxima melhor oferta. Isso resultou em uma melhora de 5% a 10% na assertividade no call center e um aumento de 20 pontos no NPS”, diz ele, referindo-se à métrica que mede a fidelização dos clientes.

Ética na aplicação de IA

Para Assad, em cinco anos, os colaboradores estarão assistidos por agentes de IA que os tornarão mais produtivos, inclusive com o uso potencial de recursos de  computação quântica. O cenário é positivo, mas também envolve preocupações.

“A discussão sensível que ainda não está acalorada é como imprimir princípios e valores humanos na IA, que vão além de vieses”, lembra Carol. Ela usa os comandos do carro autônomo como modelo de como a IA pode infringir leis para cumprir o objetivo de chegar mais rápido. Nesse caso, o veículo inteligente pode seguir o comando, sem se preocupar se está respeitando limites de velocidade, caso a IA não esteja devidamente programada.

Lemos conclui o debate ao sugerir que a melhor forma de embutir os valores de uma organização na IA é a própria organização personalizar e treinar internamente a tecnologia. “A IA será a multiplicidade de modelos, treinados pela experiência própria das organizações”, finaliza.



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