sustentabilidade Imagem gerada por Inteligência Artificial

Redes de alto desempenho ampliam resultados em mercados profissionais

4 minutos de leitura

Da telemedicina e prevenção a desastres à agricultura de precisão e gestão ambiental, casos de uso de conectividade avançada entregam resultados relevantes



Por Vanderlei Campos em 19/11/2024

Vilson Cobello Junior, diretor de TI do Hospital das Clínicas da USP, não chegou a comparar o custo (nem viabilidade) de manter um especialista nas 27 unidades de saúde do grupo. Ao invés disso, a operação ocorre com médicos que atendem pelo TeleUTI. O principal resultado que ele cita é a redução de 80% em óbitos em UTI, dada a colaboração dos médicos muito especializados e experientes do HC, que podem contribuir à distância. Além da interação com os profissionais locais, o especialista pode “se aproximar” dos pacientes, com o monitoramento em tempo real. “Isto ocorre quando o médico vê os dados dos equipamentos de forma integrada, já tem a informação para saber como orientar”, explica.

sustentabilidade
Miriam Aquino (diretora executiva do Tele.Síntese), Vilson Cobello Junior (diretor de TI do Hospital das Clínicas da USP) e Dr. Antonio Carlos Endrigo (diretor de TI da Associação Paulista de Medicina) – Foto: Reprodução/ Tele.Síntese

A combinação de IoT e conectividade avançada no setor de Saúde foi eixo de um dos painéis do evento IoT e redes privativas, da Tele.Síntese, em que outros temas de sustentabilidade e relevância social permearam as demais sessões.

O diretor de TI do HC contou que a instituição está desenvolvendo uma rede 5G privativa, no Quarteirão da Saúde (um complexo de hospitais de referência), para garantir uma conectividade mais segura e eficiente para os equipamentos de monitoramento e diagnóstico. “Os dispositivos de IoT têm que estar em redes segregadas. Não se pode interconectar com tudo. Nos projetos com 5G também é mais fácil a adoção de novas tecnologias”, explica.

Transição energética, agricultura de precisão e gestão ambiental

De acordo com o BNDES, o uso de soluções sustentáveis e IoT pode gerar economias de até US$ 5 bilhões por ano em recursos no Brasil, até 2027.

Além dos eixos tradicionais de IoT, como cidades inteligentes e automação industrial, um dos setores em que a tecnologia faz convergir economia e sustentabilidade é no agronegócio. Neste momento, três vertentes de inovação convergem para transformar as fazendas: os sensores, drones e outros dispositivos que coletam dados de forma constante e granular; as aplicações de dados, que dão visibilidade de cada detalhe da operação e direcionam a otimização de tudo; e o maquinário automatizado ou autônomo, que executa com precisão as práticas mais racionais em cada pedaço do chão.

Na prática, à medida que uma câmera é capaz de identificar um organismo ofensor e a aplicação do defensivo é feita só naquele ponto, em vez de pulverizar toda a lavoura, são economizados milhões de reais por ano em químicos, com um impacto muito menor ao solo e aos próprios alimentos.

“Agricultura de precisão gera sustentabilidade em larga escala”, define Marcos Ferraz, presidente da AsBraAP (Associação Brasileira de Agricultura de Precisão e Digital). “O agronegócio não tem tanto dinheiro quanto se imagina. O setor é rico porque é grande. Para dar resultado, a solução tem que ter escala”, enfatiza.

Marcos Ferraz (Foto: Reprodução/ Tele.Síntese)

Embora as corporações do agronegócio tenham áreas de TI estruturadas, entre os médios e pequenos produtores, segundo Ferraz, as decisões tecnológicas têm um ciclo diferente de outras indústrias. Ele explica que é um setor fortemente movido por relacionamentos. “Meu pós-venda é medir os resultados para mostrar para os vizinhos”, conta. “Nas porteiras já há um aviso: ‘não recebemos vendedores’. O médio ou pequeno produtor compra por meio da cooperativa. Sem comissionar um canal local, nem se abrem as portas”, revela.

Outra característica é que o dimensionamento dos ganhos tem que ser objetivo e relevante. “Os produtores estão acostumados com variações muito amplas de rentabilidade. Ganhos incrementais fazem pouca diferença”, informa.

Na área de logística, junto às aplicações mais conhecidas de rastreamento e telemetria, a combinação de IoT, IA e conectividade abre também espaço para casos de uso relacionados a saúde e segurança. “Há muitas coisas a se explorar. O monitoramento de temperatura e umidade de cargas sensíveis evita perdas ou riscos; a manutenção preditiva dá estabilidade; e o acompanhamento do motorista permite medidas imediatas, como alertas ou treinamentos personalizados”, enumera Carlos Mira, CEO e curador técnico do Frotas Conectadas.

Outra startup que combina IoT e conectividade com direcionamento a ESG é a Minha Coleta. “A coleta de resíduos ainda é o primo pobre do mercado de IoT. Tentamos mudar esse ecossistema com mais tecnologias e soluções”, define Eduardo Nascimento, fundador da iniciativa. A empresa tem parcerias com desenvolvedores de IoT, e, conforme o contrato, consolida os dados capturados por esses dispositivos, assim como outros registros e funcionalidades relacionadas aos processos de descarte ou reúso, em sua plataforma em SaaS. “Um parceiro desenvolveu recuperação de água e há sensores de IoT que medem a pureza e levam essa informação à plataforma”, exemplifica.

sustentabilidade
Miriam Aquino (diretora executiva do Tele.Síntese), Carlos Mira (CEO e curador técnico do Frotas Conectadas), Telmo Teramoto (sócio e Executivo de Contas de Inovação da Liga Ventures), Anderson Medeiros (CEO da Tradenergy) e Eduardo Nascimento (fundador da Minha Coleta) – Foto: Reprodução/ Tele.Síntese

Nascimento explica que a empresa atende indústrias com obrigações de compliance e estratégias mais fortes de ESG. A plataforma consolida os contratos com os “fornecedores reversos”, a parte transacional e todo o ciclo de gestão de resíduos. Ele informa ainda que há projetos-piloto em dois municípios para testes de caçambas inteligentes.

Para Anderson Medeiros, CEO da Tradenergy, as pendências regulatórias pesam mais que a capacidade de investimento e a tecnologia entre os desafios para inovação relacionada à transição energética. A empresa desenvolve soluções para conectar consumidores a produtores de energia limpa. Ele argumenta que uma das soluções para responder ao aumento de demanda, de forma sustentável, são pequenas concentrações de unidades produtivas, que compensem a demanda de geradores centralizados. “O grande desafio não é investimento nem tecnologia. É regulatório. O setor ainda é resistente com sanbox e compartilhamento de dados”, constata.

“As startups precisam da aliança com grandes empresas, para explorar as inovações em infraestruturas de alta performance e segurança”, afirma Ricardo Salazar, gerente-geral da Whywaste. “Principalmente em setores gigantescos, em que não se consegue fazer uma PoC em um cenário reduzido, os projetos têm que ser amplos. A parceria com corporações permite as inovações, sustentadas em redes privativas com grande controle de dados”, acrescenta.



Matérias relacionadas

Profissional de tecnologia colaborando em cibersegurança, segurando tablet com símbolo de cadeado, conceito de cooperação para proteção digital. Estratégia

Cooperação para cibersegurança: do cabo submarino ao modem doméstico

Reguladores buscam articulação de governo, indústria, operadoras, setor privado e sociedade para garantir um ambiente digital mais seguro

Especialista em cibersegurança analisando gráficos digitais de segurança e inteligência artificial em tela de computador moderna. Estratégia

Cibersegurança enfrenta novas ameaças e ainda tem que trabalhar nos fundamentos

Multicloud e agentes de IA ampliam a superfície de ataques, enquanto especialistas reforçam que executar bem o básico e alinhar prioridades faz diferença

Profissionais de saúde analisando dados de tecnologia de Saúde 5.0 que promove a equidade na medicina, com uso de inteligência artificial e inovação no setor Estratégia

Saúde 5.0 promove equidade na medicina

Uso de IA e tecnologias vestíveis amplia o acesso à saúde e fortalece a prevenção

Engenheiro industrial operando em uma fábrica moderna, representando a neoindustrialização brasileira com investimentos em tecnologia 4.0 para o desenvolvimento industrial. Estratégia

Neoindustrialização brasileira passa por investimentos em indústria 4.0

Painel na Futurecom discute como a nova indústria brasileira deve estimular o desenvolvimento tecnológico e capacitação profissional

    Embratel agora é Claro empresas Saiba mais