Febraban Tech 2025 Febraban Tech 2025
Febraban Tech Da esquerda para a direita: Adriana Salles Gomes (moderação), Alexandre Gomes, Eduardo Bento e Eduardo Tude – Foto: Vanderlei Campos

Febraban Tech aponta rumos da economia hiperconectada

7 minutos de leitura

Componentes de bancos, provedores de TI e operadoras se fundem em nova geração de produtos e serviços moldados aos contextos dos clientes



Por Vanderlei Campos em 17/06/2025

A presença de profissionais de negócios, TI e infraestrutura nas mesmas sessões, e alternando entre as trilhas do Febraban Tech 2025, ilustra o cenário em que os conceitos de fornecedor, usuário, concorrente e todas as cadeias de valor se transformam. Bancos usam seu alcance e produtos de crédito para vender smartphones, em um exemplo da tendência de beyond baking. Com o banking as a service (BaaS), as melhores funcionalidades dos produtos financeiros são inseridas em aplicações com marcas de redes de varejo, aplicativos de transporte ou clubes de futebol.

Em um dos painéis, Estruturas hiperconectadas e superclouds para o futuro da nuvem empresarial, Wilson Garcia, gerente-geral de Tecnologia e Plataformas no Banco do Brasil citou casos em que o banco é consumidor ou provedor de serviços de terceiros. “No Shop BB, temos que nos conectar às plataformas de e-commerce e logística. Com o BaaS, expomos nossos serviços aos desenvolvedores”, ilustrou.

Detentor de um dos maiores e mais atualizados datacenters, o movimento do Bradesco à nuvem começou em função não de infraestrutura, mas de uma plataforma nativa de IA. “A jornada do as a service é importante. O banco é hoje usuário e provedor. O portfólio inclui produtos de BaaS para empresas não financeiras e várias funções do core bancário”, contou Daniel Falbi, diretor de TI, infraestrutura e cloud do Bradesco, no painel XaaS, mudando os requisitos de nuvem.

Da esquerda para a direita: Rui Botelho, Luís Ruivo e Daniel Falbi (Foto: Vanderlei Campos)

Falbi observou que os desenvolvedores e parceiros que “consomem” o as a service do banco agregam valor ao produto bancário. “O objetivo é alavancar os negócios e facilitar a vida de nossos clientes”, enfatiza. “O valor para os clientes direciona as prioridades”, reforçou.

Nesse contexto de cadeias de valor cheias de interdependências, a conversa no painel 5G e 6G, aproximando real e virtual foi além dos avanços tecnológicos e antecipou a tendência de Network as a Service, em que a operadora, além de conectividade e segurança, passa a entregar componentes para construção de produtos financeiros e outras aplicações. “Um banco com 70 milhões de clientes ‘consome’ nossa API (interface entre aplicações) em prevenção a fraudes”, exemplificou Alexandre Gomes, diretor de marketing da unidade de grandes empresas e governo da Claro Empresas. “O que antes era só um dado (sobre eventos na rede), agora é uma oportunidade transacional para a operadora e uma informação de valor para o banco”, descreve.

Fazer melhor o que já se fazia e o que não podia ser feito

Eduardo Bento, diretor-executivo do BTG Pactual e participante do painel sobre 5G, mencionou que a implantação de pontos de presença foi abreviada de meses para dias nas áreas sob cobertura 5G. “Além da agilidade, ganhamos eficiência operacional. Nosso time de infraestrutura tem mais tempo para trabalhar nos produtos do banco”, contou. “Quando tivermos tudo interconectado em redes de baixa latência e seguras, poderemos pensar em processos fim a fim combinando sensoriamento, IA e automação”, antecipa.

Em uma provocação a seus interlocutores no painel sobre as a service, Luís Ruivo, consultor de Tecnologia e Transformação de Negócios da PwC Brasil, especulou uma comparação entre o mercado financeiro e de telecomunicações. “Temos grandes provedores de serviços como videoconferência e ferramentas de comunicação que nunca precisaram passar um cabo ou instalar antenas. Poderia ocorrer algo semelhante a isso com os bancos e as fintechs?”, indagou. Na prática, nos serviços mais relevantes para as empresas e com maior impacto na vida das pessoas, o “backbone” – seja a rede da operadora ou a plataforma de um banco estabelecido – é essencial à confiabilidade.

Continuando nesse paralelo, tanto os grandes bancos quanto as operadoras têm capacidade singular de garantir grandes volumes de transações e são companhias altamente reguladas, com padrões de governança bem definidos. Agora, com Baas e Netowrking as a service, tanto a potência tecnológica quanto a credibilidade passam a compor as ofertas competitivas de parceiros e clientes.

Rui Botelho, diretor-geral da SAP Brasil, lembrou que a nuvem foi a fundação dos bancos digitais, ao mesmo tempo em que os bancos consolidados, mesmo com toda sua tradicional autossuficiência tecnológica, hoje rodam serviços críticos nas nuvens. “As grandes instituições já se preparam para os modelos as a service”, avalia, se referindo tanto às arquiteturas de TI quanto de negócio. “Hoje temos o BaaS. Além das fintechs e dos fornecedores de tecnologia, quem mais cresce com isso são os bancos”, afirmou.

Assim como a Internet aconteceu, nos anos 80, se forçando o uso sobre a infraestrutura já existente, muitas vezes se dá um jeito para as aplicações funcionarem como a cenoura na frente do cavalo, até as redes se moldarem às novas demandas e viabilizarem a criação de soluções maduras. “Hoje, tudo entra no tubo da Internet”, sumarizou Bento, do BTG, no painel de 5G. Conforme a aplicação, isso implica o empilhamento de camadas de segurança e limita o controle de QoS (qualidade de serviço). Ou pode tornar as ideias inviáveis. “Hoje já temos táxis autônomos em algumas cidades. Se não houver uma rede segregada e otimizada para isso, pára tudo”, exemplificou.

Evidentemente, a conexão 5G por si só já traz uma agilidade inédita, como a velocidade de levantar redes privadas de alta performance, que até pouco tempo exigiam grande esforço de instalação. A rede também traz mecanismos nativos de segurança e gerenciamento avançados. Junto a isso, uma grande mudança de paradigma são as possibilidades de configurar políticas granulares não apenas no acesso fixo (FWA), como também em toda área sob cobertura 5G da operadora. Na prática, isso permite, por exemplo, estender a rede corporativa e estabelecer VLANs (redes locais virtuais) com pontos de presença remotos ou parceiros de negócios, com os critérios de performance e segurança adequados.

O modelo de networking as a service permite também a exploração e exposição de funções de alto nível. “A partir do core da rede, agregamos soluções digitais”, resume Gomes.

Alexandre Gomes (Foto: Vanderlei Campos)

As instituições já contam a décadas com conexões dedicadas privadas e são pioneiras em redes privadas 5G. Contudo, à medida que o 5G tem uma estrutura de serviços ampla e bem definida, como ocorre no mundo de TI, mudam os conceitos e se ampliam as interlocuções na cadeia de valor. Muito além dos SLAs de disponibilidade e performance aos times de infraestrutura (que também são facilitados com a inovação tecnológica), a operadora passa a entregar APIs para desenvolvedores e criadores de produtos. “A rede privada chega ao mercado financeiro no modelo de networking as a service”, diz Gomes.

O diretor da Claro enfatiza a necessidade de padronização, para acelerar o desenvolvimento de negócios para todos. “Se um banco quer usar uma API em um processo de segurança, hoje não sabe se o trabalho de desenvolvimento vai funcionar com todas as operadoras”, observou. “Quando toda cadeia de serviços tiver padronização e segurança, se pode pensar em processos mais integrados e fluidos”, esclareceu.

O desafio de interconectar nuvens e negócios

A sessão Estruturas hiperconectadas e superclouds para o futuro da nuvem empresarial aprofundou as discussões sobre os desafios técnicos e culturais associados à gestão de infraestruturas híbridas cada vez mais complexas. O conceito de supercloud surge como uma resposta para simplificar a operação, criando uma camada unificada de gerenciamento que viabiliza mais segurança, escalabilidade e eficiência. Especialistas apontaram que, embora a tecnologia esteja avançando rapidamente, há desafios de arquitetura, regulação e mudança cultural que precisam ser cuidadosamente endereçados.

Wilson Garcia, gerente-geral de Tecnologia e Plataformas no Banco do Brasil, disse que além das integrações no ecossistema, a segurança é outro grande desafio. “A boa notícia é que na supercloud podemos fazer convergir experiência e segurança”, avaliou.

Apesar da antecipação de tendências, constatada nas próprias edições anteriores do Febraban Tech, Rui Botelho, diretor-geral da SAP Brasil, tinha recomendado, em outra sessão do evento, que se mantenha muita atenção nos aspectos regulatórios e na gestão desses novos arranjos. “Há desafios para criar e cuidar do ciclo de vida dos produtos, para garantir que atendam aos clientes. Mais do que tecnologia, é uma mudança de cultura e modelo de negócio”, define.

No painel sobre superclouds, Garcia, do Banco do Brasil, complementou, por coincidência, o tema mencionado por Botelho na sessão sobre as a service — o ciclo de vida dos serviços hiperconectados. “É necessária uma arquitetura de software robusta para escalar os projetos e garantir a experiência”, afirmou. Em relação à escalabilidade, ele recomenda especial atenção à capacidade de suporte às cargas quando se expõem funcionalidades de sistemas legados. “É o legado que possui o valor dos serviços que compartilhamos”, notou.

O gestor de estrutura de TI no Banco do Brasil reconhece que, embora já opere com arquiteturas inovadoras, as transformações nas grandes organizações ainda estão em andamento. “Hoje o meu trabalho é mudar tudo que ajudei a criar”, define. “Muitos sistemas foram construídos com protocolos proprietários, em ambientes homogêneos. Quando lidamos com negócios e clientes hiperconectados, temos que fragmentar os monolitos. Um produto de crédito tem que falar via API com uma solução de um cliente”, exemplifica.

“O legado sempre vai existir, porque construímos tudo com a melhor tecnologia de cada momento”, afirma Luiz Zucas, gerente de vendas da Agora Distribuidora. O painelista apontou como pontos de atenção uma boa gestão da cadeia de serviços e o cadenciamento dos projetos. “Mapear os recursos é o ponto de partida. É preciso também saber fasear as iniciativas, de forma adequada à direção, à TI e ao orçamento”, observou.

“Um risco comum que vemos entre os clientes é não conhecer e não saber o que acontece com seus provedores”, complementa Monica Sasso, líder de transformação em Finanças da RedHat.

Elisa Kobayashi Sigueta, head de Customer Engineering do Google, reforçou a importância de simplificar a operação: “A multicloud é uma camada de abstração, para o desenvolvedor não ter que montar as funcionalidades e se preocupar com a segurança em todos os lugares.” Junto às questões de segurança e visibilidade, ela destacou o planejamento e gestão de custos como foco. “O FinOps (finanças + operações) tem que estar desde o início, para se mapear o tráfego entre nuvens, as políticas de preços e ineficiências que podem se ocultar.”

Da esquerda para a direita: Wilson Garcia, Monica Sasso, Luiz Zucas, Elisa Kobayashi Sigueta e Silvia Bassi (Foto: Vanderlei Campos)

Monica Sasso, da RedHat, acrescentou que o primeiro passo para as organizações é identificar suas competências essenciais e de maior valor. Ela advertiu que a tecnologia deve ser um meio, subordinado às decisões estratégicas. “Tem que se pensar no banco e no cliente. Outro dia, ouvi um CIO vociferar que ‘odeia mainframes’. Não é esse o critério. O jogo é executar o serviço de maior valor, onde tiver menor custo”, recomendou.

Sasso também chamou atenção para um desafio estrutural: “O outro grande desafio tem a ver com velocidade. Queremos que os bancos inovem no ritmo das empresas de tecnologia, mas não podemos, por questões de regulação e impacto dos riscos”, constatou.



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