A pressão por energia provocada pela rápida expansão da inteligência artificial tem remodelado decisões estratégicas no setor elétrico ao direcionar governos e empresas para fontes capazes de fornecer eletricidade contínua, em larga escala e com baixas emissões. A reativação da usina nuclear Duane Arnold Energy Center, nos Estados Unidos – que teve a operação interrompida em 2020 – tornou-se um símbolo dessa nova fase da indústria tecnológica ao firmar um contrato com a Google para abastecer a IA da bigtech.
Com valores que podem ultrapassar US$ 1,6 bilhão, o projeto revela a demanda crescente dos data centers por eletricidade. De acordo com estimativas da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), a geração global de eletricidade para suprir os centros de dados deve saltar de 460 TWh em 2024 para 1.300 TWh em 2035. Nessa demanda adicional, nos próximos cinco anos, as energias renováveis são responsáveis por quase metade da geração, seguidas pelo gás natural, carvão e energia nuclear, que começa a ter mais participação no final desta década.
Acordo aponta maior participação da energia nuclear
A NextEra Energy, companhia norte-americana do setor elétrico, anunciou que colocará novamente em operação a usina nuclear Duane Arnold Energy Center, em Iowa, para atender aos projetos de IA do Google. Após 45 anos de operação e um hiato previsto para durar nove anos, a planta deve voltar a gerar energia em 2029. O contrato de compra de energia por 25 anos selado pelo Google garantiu a viabilidade financeira do investimento, de acordo com a InfoMoney.
A presidente e diretora de investimentos da Alphabet, Ruth Porat, classificou a parceria como um modelo para futuras iniciativas que buscam ampliar a capacidade energética dos EUA com baixo carbono e alta confiabilidade, características estratégicas para operações de IA, altamente eletrointensivas e sensíveis a interrupções. A empresa ainda confirmou que avalia novos projetos nucleares com a NextEra diante do crescimento acelerado do consumo.
O movimento, no entanto, não é isolado, visto que, em 2023, a Microsoft firmou acordo para a reativação da usina de Three Mile Island, na Pensilvânia. A previsão de retorno é para 2028. O que parece ser uma tendência faz renascer mais do que as usinas elétricas, reacende o debate sobre protocolos de segurança e normas ambientais para evitar casos como o acidente nuclear de Fukushima, no Japão.
Matriz energética dos data centers

O estudo da IEA indica que a matriz global atual desses centros ainda é fragmentada: carvão (30%), renováveis (27%), gás natural (26%) e nuclear (15%). Mesmo com a rápida expansão das fontes renováveis correspondendo à geração de maior crescimento anual (22% entre 2024 e 2030), é preciso que fontes sem risco de intermitência sustentem a atividade dos data centers. Nesse sentido, a energia nuclear se apresenta, mais uma vez, como alternativa, especialmente a partir da introdução dos reatores modulares pequenos (SMRs), previstos para ganharem escala após 2030.
Com isso, as emissões de CO2 associadas à eletricidade consumida por data centers devem atingir um pico de 320 Mt em 2030, para então iniciar uma curva de leve queda.
EUA, China e Europa apostam em renováveis e nuclear
Nos Estados Unidos, gás natural e renováveis lideram a expansão imediata. Mas, após 2030, a energia nuclear impulsionada pela adoção dos SMRs deve reduzir a dependência do gás, levando as fontes de baixa emissão a ultrapassar metade da matriz dos data centers até 2035. De acordo com o estudo, é esperado que empresas de tecnologia financiem mais de 20 GW de SMRs, com espaço para crescimento a depender do sucesso da implementação.
Já na China, o carvão ainda é responsável por quase 70% da eletricidade consumida pelos data centers, mas políticas de descentralização e investimentos renováveis devem equilibrar esse quadro, com declínio do carvão após 2030. Em 2035, as fontes de energias renováveis e nuclear responderão por quase 60% do consumo dos data centers.
A Europa, por sua vez, deve atender 85% da demanda adicional com renováveis e energia nuclear até o fim da década.
